Onde são gastos os nossos impostos?

Ontem falava com o meu amigo João Monteiro Rodrigues, espreitando o Tejo duma esplanada altaneira.

Como criar uma visão para o futuro em que as pessoas se sintam mais confiantes e esperançosas?

Dizia ele que a nossa população está muito envelhecida. De facto, se virmos este gráfico em baixo que a Autoridade Tributária publicou (e muito bem) sobre "para onde vai o dinheiro dos nossos impostos" compreendemos que só podemos ter uma população idosa: 24% vai para prestações sociais, 21% vai para o sector da saúde - tipicamente sectores em que uma população idosa não ajuda muito. Por outro lado, para as operações relacionadas com a dívida pública, temos 12%, o que significa que o que produzimos é insuficiente. Tudo isto representa 57%, uma despesa que não tem mesmo qualquer retorno.

O sector da educação, talvez o único sector que é verdadeiramente reprodutivo (a aposta na "massa cinzenta", o único recurso que inventa novos recursos), representa apenas 12% do bolo. Não deveríamos apostar mais aqui? Já alguém disse uma vez: "a Educação é cara? Perguntem antes o custo de não a ter?!" 

Ora, o João dizia-me uma coisa interessante: as taxas de natalidade são tão baixas porque as pessoas saem de casa de seus pais muito tarde e depois, quando se casam, estão quase em idade infértil.

A Dinamarca, dá dinheiro aos estudantes quando estes entram para a universidade para eles se saberem governar. É uma mentalidade diferente, que os estimula a serem empreendedores pois se incentiva esse empreendorismo. Com esse estímulo, esse empurrão, eles vão criando as suas próprias oportunidades.

Na verdade, creio que falta assumir um compromisso, novos contratos sociais entre cada um de nós -  pessoalmente - e o nosso país. Parece-me uma verdadeira estupidez que o país crie profissionais altamente competentes para depois eles irem viver e trabalhar para o estrangeiro. A educação universitária deve ser gratuita sim senhor, mas deve haver também um compromisso em que, caso isso aconteça, as pessoas fiquem a trabalhar por cá durante uns anos. Recebemos, temos de devolver também. Se não querem ficar cá, então que paguem as suas propinas, que devolvam o que lhe foi dado... não se percebe é que o país esteja a investir, para que depois esse investimento seja canalizado para outro país, que paga ordenados 2 a 3 vezes maiores.

Temos mesmo que criar uma relação mais directa com o Estado, uma relação em que cada um sabe o que dá e o que recebe do Estado. Era algo que ouvia há não muito tempo do Prof. João Duque, professor do ISEG. Quando uma pessoa vai a um hospital e é atendido, deve saber que esse tratamento custa x, que não é gratuito, que não "cai do céu". É mais ou menos como ensinar às crianças da cidade que os ovos não vêm do supermercado, que vêm das galinhas, que os põem; alguém forçosamente pagou aquela factura daquele tratamento, tal como houve uma galinha que pôs os ovos do supermercado; isso ajuda a criar uma mentalidade generalizada mais conscienciosa e atenta, de que o dinheiro é um bem escasso, que tem que ser bem gerido e que devemos exigir que o seja.  

Na semana que passou achei muito interessante o PCP (que todos sabemos ser o partido dos velhos) ter juntado ao seu líder 3 mulheres jovens para falar sobre natalidade. Achei engraçado Jerónimo de Sousa ter dito algo que para um marxista, que todos sabemos defender o materialismo e essencialmente a redistribuição e pouco mais, vai um pouco em contradição: devemos apostar na natalidade e não olhar apenas aos custos dessa aposta, porque isso é investimento; mas aliás, todos os partidos ao verem os dados dos Census21 estão preocupados com esta questão da natalidade https://www.dn.pt/sociedade/partidos-politicos-preocupados-com-quebra-da-natalidade-propoem-medidas-14014401.html. Sendo esta uma questão em que os partidos estão de acordo quanto ao problema, talvez fosse possível encontrar consensos alargados (talvez Marcelo Rebelo de Sousa pudesse ajudar a fazer pontes). 

Pensarmos no futuro a um horizonte mais vasto é importante para não andarmos sempre a "tapar buracos", a correr atrás do prejuízo. Conseguiremos fazer isso? Até ao momento não conseguimos...







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