It's all about motivation


Quando éramos pequenos a coisa mais fantástica que podíamos ter era o meu pai organizar-nos um rally-paper: um conjunto de provas fantásticas, todas elas de difícil execução e que exigiam de nós a máxima da nossa energia e do nosso empenho. Cada grupo levava as folhas com as provas e as perguntas e um saco de plástico para a recolha dos objectos necessários, partindo numa correria desenfreada pela quinta e imediações mais directas. Era necessário apanhar uma batata, uma pera ou uma minhoca; responder a perguntas tais como "como se chama o palácio com duas grandes chaminés?", ou "de que é construído o convento onde não se consegue dormir com as pernas esticadas?". E havia desafios muito grandes: arranjar 3 cabelos brancos por exemplo (iríamos ter com as únicas pessoas velhotas por perto, a Maria Amélia e a sua mãe Maria Emília? Como iríamos fazer?! Ou tentar ir à casa dos caseiros e pedir para espreitar por entre a "cabeleira", ou melhor, tentar encontrar alguns grisalhos num dos tios ainda novos - será que valia?! Tínhamos que pensar rápido e encontrar a melhor solução! E aí estávamos, para a frente e para trás, por grupos, a ver quem acabava primeiro (normalmente o último desafio da prova era fazer um desenho da professora de inglês de biquíni, o que exigia grandes dotes artísticos).

Este lado desafiante duma prova difícil, em que no fim se via quem eram os vencedores, animava-nos a dar o nosso melhor.

Passados muitos anos, dou por mim a fazer inúmeros rally-paper, o que me faz volta e meia lembrar também dos "12 Trabalhos de Asterix", o intrépido herói gaulês, em que uma das provas mais difíceis era vencer o monstro chamado "burocracia". 

Mas muitas vezes lido mal com a situação, antes de ver nisto uma espécie de jogo: certo dia, à porta do Maria Bolachas, o Sr. Mnau -  carismático e sorumbático porteiro desse lugar da nossa juventude, que garantia o "visto de entrada" na noite, virou-se para o António Moreira e disse-lhe que ele só entraria se trouxesse uma espiga de milho. E ele foi buscar uma... e entrou! 

Passam a vida a pedir-me espigas de milho nas repartições públicas... e eu às vezes chateio-me, fico irritado...

O poder da motivação é importantíssimo. 

Outra memória de quando éramos novos, passava-se quando o meu pai nos levava de Sintra para Lisboa para o colégio, em que tinha que enfrentar uma viagem de 1 hora e meia com um bando de miúdos agitados. Ora acontecia que tinha o condão de nos pôr completamente vidrados nas histórias de índios e cowboys do faroeste americano que começou a inventar, em que cada um de nós era uma personagem muito peculiar e cómica: o Caneta Bill, o Cara de Vaca e o Cara de Boi, o Cana Abaixo e o Cano Acima, o Sr. Baixinho com Bigodinho e Brilhantina no Cabelo, etc... Uma viagem que podia ser um verdadeiro tormento no IC19, tornava-se afinal numa viagem fascinante para todos!

Esta semana o meu trabalho levou-me a Alcácer do Sal, uma cidade linda junto ao Sado, onde à semelhança de muitas terras alentejanas o comunismo/comodismo se instalou. Lá é muito habitual pedir-se espigas de milho, ou outras coisas mais estranhas como ir apanhar minhocas ao rio... Mas o entusiasmo não nos deve fazer esmorecer, pois há provas mais difíceis do que outras - e quanto maior o desafio, mais celebrada a vitória! Tal como nos rally-paper! 

"It's all about motivation" e sobre as histórias que nos contamos a nós mesmos!

 



 

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