Num mundo onde os únicos sonhos permitidos são os que se podem comprar
"Num mundo onde os únicos sonhos permitidos são os que se podem comprar, a felicidade passou a ser apenas um atributo da posse. A realização pessoal, que é - ou deveria ser - o caminho de qualquer vida, já só consiste perversamente na resignação e na sujeição. Realizo-me adaptando-me, executando os gestos dos outros sem nunca me interrogar. Realizo-me, não me realizando, porque a sociedade não me permite mais nada, porque só tenho duas pernas, curtas, e não vejo asas a despontar em parte alguma do meu corpo. Mas será mesmo assim ou será apenas um álibi, uma forma de preguiça mental? Basta parar por um instante e observar o mundo da natureza que nos rodeia para se ver que tudo fala da gratuitidade inquietante, da fragilidade e da beleza das formas vivas. Embora tentemos viver em caixas hermeticamente fechadas, o mistério resplandece à nossa volta e sugere-nos o caminho a percorrer. Não existe mediocridade, monotonia. O que existe é apenas o nosso medo. Medo de crescer,...