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Carta Aberta a Nuno Crato - Ferreira Fernandes

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Boa metáfora!: "Demasiado falado, o 70.º aniversário de Eusébio. Para contrabalançar a tendência popularucha vou evocar aqui o professor Silva Ferreira, ilustre pedagogo, e uma data que é momento histórico: o 23 de julho de 1966. Nesse sábado, o insigne Silva Ferreira ensinou aos portugueses o que é vontade e pertinácia - afinal valores que ajudam mais os portugueses, sobretudo agora, do que a futilidade dos futebóis. Nessa tarde, um grupo de sábios portugueses defrontava colegas da Coreia do Norte, em Inglaterra. Discutiam um problema que apaixonava o mundo - quantas vezes era possível meter uma esfera de couro num cabaz pousado em relva? - e os asiáticos, bebendo na tradição milenar do yin yang, aos 25 minutos já tinham metido três. O grave foi ver como os portugueses desesperaram. Todos? Não: o professor Silva Ferreira pegou na esfera (viu-a armilar, como a da pátria) e, sozinho, levou-a, uma, duas, três e quatro vezes ao destino. Os colegas de apáticos viraram eufóricos...

Crónica do tempo que passa... mais uma

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Se algo atrapalha hoje é a total falta de crença no ser humano e a inconsequência dos seus actos. Vivemos tempos de incredulidade, de cepticismo que é palavra mais forte, que rotula tudo como indiferente do ponto de vista ético. António Pinto Leite no seu livro "Onde está o Mal", feito da selecção de crónicas que escrevia no Expresso, dá conta disso mesmo. Estando a ler biografia moral de Abraham Licoln (qualquer coisa como "Moral Virtues of Lincoln"), um excelente estudo sobre como este homem cresce moralmente, o autor aponta algo interessante sobre a crença que então vivia a sociedade americana: ainda Nietzsche, Marx e Freud não tinham lançado os seus ataques à moral, ainda se vivia numa base de crença no ser humano e de destrinça entre o Bem e o Mal.  Mas além deste aspecto - do ataque à base moral da sociedade - não podemos escamotear o facto de se ter verificado a globalização e a industrialização, que fizeram ruir a...

Someday is not a day in the week

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Neste dia que o Conselho Europeu se reúne em Bruxelas, a atenção de todos se volta para acompanhar o que dali resultar, num que é talvez dos momentos históricos mais dramáticos da construção europeia. Como muito bem acentuava ontem António Esteves Martins, o nosso decano jornalista para a União Europeia, que as declarações dos políticos normalmente "douram a pílula" - fazem sempre um discurso que na verdade pretende sempre colher dividendos e nunca admite derrotas. É importante ver o que daí sairá e que tipo de declarações se farão. O que é certo é que temos caminhado desde há muito neste tipo de "fingimento" que adia a resolução dos problemas e que basicamente consiste em declarações bonitas por parte dos Chefes de Governo e num pedido à Comissão para levar a coisa avante - perdoe-se-me a expressão! O dramatismo da situação é inegável. E Portugal, um país periférico teria muito a perder se as coisas corressem mal. Portugal, como país exíguo, tem a sua ge...

Enquanto na Europa são números, na América Latina é a palavra!

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Neste tempo de desesperança em que a Europa está mergulhada, assisti ontem com pasmo – imagine-se! … - ao encontro promovido pela Venezuela em Caracas que juntou 32 Estados Latino-Americanos na conferência do CELAC, Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, que acaba de ser constituída. Numa enormíssima mesa, debaixo do olhar de Bolívar e de outros libertadores, cada chefe de Estado apresentou o seu discurso, sem peias e sem tecnocratismos. Televisionado para todo o mundo, pudemos ver substância, verdadeira política e valerá a pena acompanhar os seus desenvolvimentos – à parte aqui as dúvidas legítimas que tenhamos sobre muitas das personagens envolvidas. Mas o que fica desta conferência é a discussão de ideias, os antípodas do que podemos ver na Europa, em que tudo é apresentado de uma forma opaca, asséptica e desinteressante - discutido no silêncio de reuniões e em corredores de tanto pessoal certamente preparadíssimo, mas em que a nota dominante da análise a fazer é ...

Servidão Humana

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Philip, um jovem com pé boto é a personagem que Somerset Maugham retrata no seu extenso livro "Servidão Humana". Do pai médico, que morre ainda ele não era nascido e da mãe que morre pouco tempo na sequência do parto, a vida de Philip parece uma continuação de partos mal sucedidos e de vidas que fenecem.    Numa escrita que é um trabalho meticuloso, Maugham apresenta-nos o ser humano mergulhado nas múltiplas contingências da vida: o tio pastor e a tia reprimida, mas com amor para dar; a escola onde os outros o escarneces por causa do seu pé defeituoso; as amizade e os sentimentos complexos como o da admiração/inveja. Ou a religiosidade imposta.    Dá-se então o facto de - quase por desespero, rasgar-se uma janela de liberdade: a ida para a Alemanha, para Heidelberg e o encontro com a diferença. E segue-se a tentativa de se encaixar de novo, abraçando uma profissão convencional, a de contabilista. E, depois, um novo rasgar com a partida para Paris, p...

Que a luz nos ilumine

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Por vezes já tenho pensado em como funcionaria tão melhor este País se vivêssemos com metade, 1/3 da nossa população. Menos trânsito, menos gente nas repartições públicas, menos confusão. Hoje, dia de greve geral, a estrada parecia um passeio ameno, num dia bonito e solarengo. Foi essa a minha experiência de A16 e de CREL, outras pessoas tiverem menos sorte do que eu. Greve geral. Hoje à noite verei as notícias. Outro apontamento. Paulo Portas no Conselho de Segurança das Nações Unidas: Portugal continua a trabalhar para que a Língua Portuguesa seja língua de trabalho. Boa notícia. Ontem, Cidadela de Cascais, inauguração. Boa notícia essa a da recuperação daquela que foi a residência de Verão dos nossos últimos reis e de Presidentes da República. Não se sabe ainda bem qual a sua função, mas não deixa de ser um óptima notícia a recuperação daquele património. Ao lado uma nova Pousada. Oxalá esteja bom tempo no próximo fim-de-semana. Sabe sempre tão melhor um dia de sol qu...

A Esperança segundo o Papa e JH Saraiva

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Acabei recentemente de ler a Encíclica do Papa Bento XVI a "Esperança Cristã", 38 páginas claras e bem construídas. O que fica da sua leitura são sentimentos contrários: por um lado a exposição duma fé num mundo que há-de vir, e a elisão de toda e qualquer pretensão de que este mundo será possível atingir nesta terra; por outro lado, o sentimento de que o Homem não vê senão por "apalpadelas" a eternidade e nela se manifesta a impotência que temos  - e por aí é um documento verdadeiro e, ao mesmo tempo, também muito  desconcertante, porque não nos dá certezas absolutas... Daí os sentimentos contrários: por um lado a paz, por outro lado, o não ver o horizonte. Talvez possa ajudar nisto a experiência que podemos aproveitar de pessoas que viveram situações limite: ouvi já relatos impressionantes de histórias assim, de pessoas que se sentiram fora do seu corpo, a olharem para si do alto duma sala de operações por ex., a verem a sua vida em r...