Disciplina

No livro que sobre si e o seu legado, o biógrafo de Nelson Mandela escreveu, conta-se como para Nelson Mandela toda a questão da disciplina é fundamental para si.
Ontem, pela noite, fui a uma casa de fados. Sendo realmente um prazer assistir ao que de engraçado têm muitas figuras do fado, não se pode deixar de pensar - eu pensei-o - na imagem da falta de disciplina que muitas vezes emana daquelas figuras. Falta de disciplina pelo que bebem, pelo que fumam.
O fado não é lugar para a síncope certa.
Nas noites de boémia, Vinicius de Moraes e a sua trupe, animada em torno dele, rigozijava-se até altas horas, à luz fusca, entre copos e poesia, conversas e violas.


Uma bondade inata ao artista, que esquecido do mundo, desistido do mundo, se volta para aquele recanto e aí se entrega em momentos de dádiva colectiva.
Há evidentemente um plano maior: um plano maior feito de valentia que não se enebria debaixo do fumo e do álcool.
Mas ao escrever, porque digo eu que é mais nobre aquele que sofre do que aquele que se diverte?
Porque é mais nobre aquele que é pesado do que aquele que é ligeiro?
O plano maior sei-o bem: o plano maior é para aquele que se abre a uma dimensão maior. O plano maior é para aquele que segue um rumo, para aquele que, triste ou feliz, não leva a vida ao "Deus dará".
Penso que a disciplina é para tudo. Sobretudo para não perder tempo. Perder tempo gastando-o inutilmente.
E o enorme sorriso de Mandela enche-nos o espírito. Enche-nos o espírito e alimenta-o com a sua doçura e demonstração da sua rectidão. Poderia ter visto aquele velho na parapeito duma janela em Parati, Brasil, a mesma doçura, o mesmo olhar. Mas teria certamente também um olhar mais turvo, com a distância dum horizonte que deixou de salvar, reminiscências de um destino que deixou de cumprir ou que sonhara dever ter tido, ou que tivera numa outra vida.

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