Ontem, numa peça jurídica, escrevia que uma mentira repetida muitas vezes se torna entretanto verdade. Vinha hoje a pensar no caminho para o escritório na amoralidade dum homem como Donald Trump: o que interessa é ser-se vencedor, preside a lei do mais forte. A América que era uma terra onde classicamente se distinguia o bem do mal, é agora uma terra da relatividade dos valores, onde cada um tem "a sua verdade". A invasão ao Capitólio, incentivada por ele, foi um atentado gravíssimo (talvez o mais grave de que há memória desde a guerra civil) às instituições americanas. Os processos de inquéritos demonstraram à saciedade a sua passividade naquele dia 6 de Janeiro de 2021, em que aquela mole humana convocada por ele para se manifestar contra os resultados das eleições, se dirigiu ao Congresso. O poder tremeu e podia ter sido um banho de sangue. Como uma das primeiras medidas após a sua tomada de posse há dias, resolve libertar os "reféns" presos... Como chegámos aqu...
O que poderá uma santa do longínquo séc. XIV português dizer-nos 700 anos de depois? Exercício ousado para quem não é teólogo nem historiador… mas creio não dizer nenhuma asneira se disser que a vida na Idade Média era em geral bastante mais difícil do que é hoje e que vivemos num mundo muito diferente. Deslocamo-nos facilmente, comunicamos em tempo real para o outro lado do planeta, um número alargado de confortos e distrações está ao alcance da generalidade da população das nossas cidades. Confesso que sempre me causou alguma estranheza o tom com que é descrita a vida na “Salve Rainha”, oração atribuída ao monge Hermano Contracto, que a teria escrito por volta de 1050, no mosteiro de Reichenau, no Sacro Império Romano-Germânico: “(…) A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei. E, depois deste desterro, nos mostrai Jesus, bendito fruto do Vosso ventre (…)”. Todavia, se tivéssemos em conta qu...
Um casal de noivos ("I promessi sposi", dá o nome a este romance de Manzoni), ela Lúcia, ele Lorenzo (ou Renzo), são as personagens principais dum enredo passado no Norte de Itália no início do séc. XVII, num tempo em que o direito da força ainda prevalece sobre a força do direito. Dom Rodrigo, capo senhor de um bando armado de malfeitores que grassam ainda e que são avessos a todos os éditos que proíbem a violência, é a tal expressão da força que, tomado de apetites pela noiva, proíbe o mui pusilâme Dom Abbondio de unir em casamento o casal. O cura da aldeia revela-se em todo o longo romance um homem fraco e temeroso, indigno do Magistério ao qual foi chamado. Mas ele não é senão a figura passiva, e titubeante que não se opõe ao mal e que precipita toda uma correria desenfreada, pois os noivos empreendem uma fuga tal como coelhos que fogem da raposa. Os diálogos são vivos e interessantes. Pela intervenção dum frade, Cristoforo, homem de discernimento e de bom conselho, Lúc...
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