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Mário Cordeiro "Ele sabia e sonhava...", in Jornal i, 24 de Novembro de 2015

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Entrou. Entrámos. Antigo 3.o ano, actual 7.o. Aula de Físico-Química no Liceu Pedro Nunes. Num anfiteatro, lugar ainda pouco conhecido por estudantes da nossa idade, mais habituados a “salas de aula”. Sentou-se. Sentámo-nos. Lá em baixo, com uma grande mesa, repleta de líquidos e de provetas, buretas, vasos e balões, o mestre começou a sua sessão de magia. Em silêncio, porque o silêncio é cúmplice dos grandes momentos. O mestre agarrou num balão com um líquido transparente e juntou outro transparente, produzindo uma mistura encarnada. Perante o pasmo geral, também ele silencioso porque, creio, de boquiabertos que estávamos nem um som poderia sair, juntou mais uma substância. O líquido entrou em efervescência e ficou azulado. Vertido para a proveta, que conteria algum “pó secreto”, ficou verde. Os “ohs!” não soaram porque o fascínio toldou qualquer reacção. O mestre continuou, fazendo truques sobre truques, misturando pós e líquidos de frascos e provetas diferentes, transformando

Para a frente!

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No caminho que, se quer interessante, cheio de desafios e encontros, cheio de histórias para contar, é importante ter um passo seguro. Confiante. Sempre olhando para à frente, à procura de concretizar o próximo desafio.  É comum, na vida, colocar-mo-nos  questões. As mais perigosas são sempre, "e Se"?! "E, se isto tivesse sido assim?", "e se,..." S. Paulo tem uma expressão muito bonita que é: "combati o bom combate, guardei a fé".  Combater o bom combate é viver com garra, com entrega, acreditando nos nossos valores e tudo fazer para os pôr em prática. Combater o bom combate é ser como um atleta que "fuça" para sempre fazer melhor, que treina para ter os melhores resultados. É acordar cedo, é fazer todo o "trabalho invisível" de preparação que todo o atleta de alta competição se preocupa por fazer, Combater o bom combate é andar de olhos bem abertos, é ser empenhado, é ser atento, é ser comprometido, é não ser i

Transgressores

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Uma cerimónia, tudo gente fina e bem arranjada. Tudo alinhado e bem comportado. Uma criança, ainda não perfeitamente acomodada à compostura desata num choro e não há nada que a faça parar. Quanto mais lhe "pedem" para parar, mais ela prime as suas cordas vocais. Então, num gesto decidido, pego-a ao colo e afasto-me. "Já viu que está um lindo dia, Vicente, apesar de chover?! Vamos os dois ver a chuva cair ali junto do caminho?!"  Debaixo do meu chapéu de chuva, eu e o Vicente observamos a força da água que, velozmente, corre pelas extremidades do caminho formando um ribeirinho. A sua voz embargada ainda pergunta: "esta água.. ela pode-se beber?" "Claro", digo eu "Vamos beber?!" E então os dois nos inclinamos e ele imitando-me faz uma concha com a sua mão e dá um trago naquela água fresca.  Chegam a nós os adultos, uns minutos depois, nós divertidos com o espectáculo da chuva. Uma conversa séria prende-os: "estive a fala

Do Quénia a Paris, a viagem amarela do caçador de escorpiões

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Paris, 21 de Julho de 2013. A tarde arrastava-se, demorada, e o calor, insuportável, impunha recolhimento. A longa espera pelo pódio nocturno da 100.ª edição suplicava por uma leitura condicente. Uma fotografia, a toda a altura da primeira página, salpicada por letras que anunciavam o “Rei Sol”, facilitou a escolha. Num café, recolhido da artéria principal, o PÚBLICO abriu a bíblia do desporto francês e deparou-se com um Chris Froome desconhecido. Talvez em jeito premonitório, dada a supremacia do britânico naquele ano e as evidentes capacidades de trepador evidenciadas no ano anterior, quando foi segundo atrás de Bradley Wiggins, o L’Équipe viajou para Portugal e ficou esquecido numa estante. Até este domingo. Neste domingo, foi dia de folhear de novo a estória do  vencedor da Volta a França 2015  numa viagem que começa num bairro residencial de Nairobi, no Quénia. Do encontro entre Clive, um antigo jogador de hóquei da selecção britânica de sub-19, que emigrou para o

Fidelidade

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Sou fiel. Sou fiel hoje. Sou fiel hoje, aqui. Sou fiel hoje e aqui. Sou fiel hoje e aqui, sempre. Sou fiel hoje e aqui e sempre. A mim próprio, à vida. Ao minuto que corre e que o segundo apanha. Fui fiel. Fui fiel hoje, aqui, hoje e aqui, sempre, hoje aqui e sempre. Fiel por muito que custe. Porque de hoje, de ontem, me pergunto: porque terá aquilo acontecido? E, intranquilo, não me permito viver na paz da insuficiência e da imperfeição. Mas em toda a pressa eficaz, o espírito retrai-se, e, muitas vezes, na insuficiência, na imperfeição, na lentidão, a verdade sente-se mais à vontade, e eu não pretendo fazer-me perfeito, só porque aí deixo de ser fiel. Sou fiel, apesar de tudo. Apesar da insuficiência, da imperfeição, da lentidão.