A Capelinha

O primeiro encontro "a sério" com a "Senhora Marquesa" foi há já muitos anos, quando o meu primo Nuno e eu, rapazes de calções e aventureiros campesinos, nos encontrámos à saída da Capelinha da Piedade e recebemos um convite inesperado. Havia o hábito, já do meu avô Augusto, de lá ir aos Domingos à missa do meio-dia; o meu pai brincava sobre o Frei Francisco (que mais tarde vim a saber ser um franciscano de grande prestígio nos meios da história, um estudioso, e que dava pelo nome completo de Francisco Leite de Faria) que - por tão velhinho e por ter uma voz tão arrastada, dizia sair da gaveta sempre que rezava missa. Era a chamada "missa da gaveta", com o "Pe. da gaveta"! Ora, estava eu a dizer, ao início, que certo dia, penso que depois de irmos cumprimentar a Senhora Marquesa, que ela nos diz para irmos a casa dela que tinha uma coisa para nós. Os dois, contentes, em pouco tempo batemos à sua porta, na Quinta da Piedade. O Milro - o chauffer - abre-nos a porta no átrio, onde, se destaca uma grande tapeçaria com D. Nuno Álvares Pereira - e, conduz-nos ao quarto da Senhora Marquesa. Era um grande quarto e lembro-me tinha uma cama em dossel. Aí a Marquesa que estava sentada na cama, levanta-se e vem ter connosco e dá a cada um de nós um beijinho e um santinho com os Pastorinhos de Fátima. Um gesto simples.
Habituámo-nos a ir à missa da também chamada "Capelhinha", e a sermos convidados para os concertos no Verão na Quinta da Piedade. Lembro-me dum lindo com a Maria João Pires e Augustin Dumay. 
À saída da missa era sempre um ritual irmos falar à Senhora Marquesa. Estava sempre também a Bába, a sua filha, por sinal uma pessoa simplicíssima e muito simpática, muito conversadora. 
Não era habitual, mas um dia fomos em família à ceia de Natal em casa dela na Quinta da Piedade. A Marquesa tinha sempre muita gente em casa dela. Penso que terá sido nessa ocasião que me apercebi que a maior parte das pessoas adultas falavam em francês, e tive pena de não falar. Mais tarde - quem sabe se não em parte pelo extracto dessa memória? - resolvi aprender...
No dia em que ela morreu senti que se tinha perdido uma grande mulher e fiz questão de ir com os meus pais à missa em Muge. 
     

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