Crónica do Tempo que Passa

1. Na Parábola do Filho Pródigo, há que perceber a figura do filho fiel. Afinal, ele sempre se portou bem, sempre esteve ao lado de seu pai. Todos compreendemos e sentimos a sua indignação quando seu pai recebe o filho dissoluto com um abraço terno e chama os criados para lhe porem um anel e o o vestir com as melhores roupas. A Misericórdia de Deus é um enorme mistério! Nesta discussão à volta do lugar dos recasados na Igreja, voltei a pegar no livro de Henri J. M. Nouwen, "Meditações à Volta dum Quadro de Rembrandt". Na corrida para o Senhor, não há vencidos. Há só o grande encontro com o Senhor que nos recebe, se o quisermos, e que nos poisa a mão calejada da responsabilidade e do trabalho de um pai e a mão da ternura e doçura duma mãe. Ele reconhece cada um como um pai e aceita cada um - como só uma mãe o faz. 



2. Ontem, fui ver o filme "O Quadrado". Há uma semana vi o documentário "Olhares, Lugares". São dois filmes muito actuais, que falam da luta pela humanização do mundo. Tema intemporal, mas digo-o também actual porque deixámos de ser comunidades para passar a ser sociedades - com o perigo de sermos anónimos, esquecidos, o nosso maior medo. O Quadrado é a tentativa de conceptualizar um espaço, a apresentar museologicamente, onde se experimenta a grande provocação de fazer viver as pessoas na experimentação de que no seu interior se viverá a utopia: onde as nossas necessidades são satisfeitas, onde não somos esquecidos, onde temos um nome. É esse nome, pelo rosto, que "Olhares, Lugares" pretende também dar ao acompanhar a viagem de dois fotógrafos França a fora retratando gente comum e fazendo-a revelar em grandes formatos para os colocar em edifícios. "O Quadrado" confronta-nos com a densa realidade emocional dos homens, com a dificuldade de viver em comunidade, de amar. Entre confiança e desconfiança, entre sublimação e os instintos mais básicos e primários - se não mesmo primatas - já se percebe que o resultado é uma queda e um levantar circular do homem, tal qual Sísifo.

3. O diálogo humano, a compreensão é muito difícil e são muitas as paixões humanas que nos separam. Neste sentido, não se ter ilusões, ter um sentido de realidade, é muito importante. Quem não espera mais do que a vida pode oferecer - e que não é pouco, mas que implica coragem para admitir a imperfeição das coisas; quem a aceita, apesar dos dissabores que existem e todos os status quo que é preciso deixar cair; quem a ama, mesmo quando o chão sai debaixo dos nossos pés; e quem da vida  tenta tirar o máximo de partido, construindo mesmo na tristeza mas esperando o bom que há-de vir é um sábio. Churchill, por exemplo, não teve ilusões, não acreditou que Hitler quisesse o bem. Manda a sabedoria que há que esperar o melhor, mas preparar-nos para o pior. Sabedoria, uma arte tão ao estilo de um Adriano Moreira. Dizia Churchill que sucesso "é ir de fracasso em fracasso sempre com o mesmo entusiasmo". Haverá cinismo nestes aforismos? Cínicos são os que nasceram já velhos cansados, sábio é quem apesar de velho está pronto para recomeçar. Para cair e voltar a levantar-se.   

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Uma rainha em peregrinação

JMJ, começa agora!!!

A imaginação cristã para elevar o real