O Personalismo, a Europa e os sentimentos de pertença

Entre a desesperança (na realidade, ele chama-lhe  "desespero") e a esperança ("Fala-me da tua Esperança", 1.ª ed. - Porto : Ambar, 2002. - 192, [1] p. ; 23 cm. - (Simetrias). - Tít. orig.: Dis-moi ton espérance), Guy Coq apela-nos para a aposta radical na esperança. 

Descorrendo pelas experiências do século XX, período que criou várias utopias, a maior das quais a do comunismo, apresenta um futuro aberto em que o mito de Sísifo é uma possibilidade sempre à espreita. Contrapõe assim à utopia positiva, a utopia negativa: o mal que nos poderia suceder e que nos pede a estarmos atentos. 

A cultura do empenhamento, do compromisso, não é estranha à constatação de que estamos todos no mesmo barco e que o Catolicismo da 2.ª metade do Séc. XX propôs (o Personalismo nesse sentido é uma antropologia que continua a fazer que pensar). O fim das grandes narrativas, levou-nos a um desacreditar numa explicação racional do homem.

Vem isto a propósito das recentes eleições europeias e no descortinar do que seja este projecto comum. Hesitei em quem devia votar e tentei esclarecer-me sobre o que cada partido propunha e este exercício foi bom para voltar a pensar no que para mim faz mais sentido como projecto político. 

A construção europeia tem-se feito, isso o diz Guy Coq também, como uma elisão dos passados, uma apagar da história, algo artificial e sem referência a uma identidade comunitária. Quis-se acabar com a ideia do Estado-Nação e com os sentimentos de pertença a um passado integrador, justamente conferidos por essa idéia de comunidade nacional. Pretendeu-se criar uma América, num continente cheio de história e de ancestrais conflitos. Creio que é um erro. Por outro lado, também a construção da Europa tem sido feita com desrespeito pelas regras da democracia o que faz com que por exemplo a falta de debate em Portugal sobre as questões europeias afaste naturalmente as pessoas das urnas: 70 % de abstenção são números muito preocupantes. 

Cá para mim, mantém-se a necessidade de uma massa crítica e de pensamento nacional. Porque caso contrário, não seremos nós a pensar no que é importante para o nosso país, mas outros, submetidos a outras lógicas, outros valores e outros interesses.

Esta semana almocei com um amigo meu e falámos no Euro e na moeda forte que talvez não seja o melhor para nós e para termos um sector produtivo. Pergunto: fomos nós os artífices do nosso trajecto? As auto-estradas que fizemos às catadupas não serviram outros interesses que não os nossos? A lógica do automóvel foi certamente uma força muito forte que se impôs, o nosso parque automóvel dá a ideia dum país rico... e não o somos.

Vale a pena acreditar que temos capacidade para fazer melhor e para nos organizarmos melhor enquanto sociedade.



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