Depois das férias

Regressado a Lisboa após uns dias em Arraiolos com o Nuno, a Guiomar e o Bruno, parti para S. Miguel nos Açores.

Os dias passados no Alentejo foram repletos de boas conversas. 

Sentávamo-nos no terraço e as palavras vinham como cerejas. Não me lembro já bem de que temas falámos. Uma das coisas de que falámos foi sobre o que faz de uma pessoa um bom matemático e o Bruno disse-me que uma das características é a persistência em resolver problemas. Disse-lhe que me lembrava de "ter perdido o pé" quando tivemos um professor no Planalto que não era lá muito exigente (o "Paizinho") e depois apanhámos um professor bem diferente no 8.º ano (o Vítor Cunha). 
Um advogado é uma pessoa que resolve problemas também.

O Bruno e a Guiomar falaram da descoberta dum livro de Arquimedes, da descoberta também dum instrumento no fundo do mar dos romanos  que funcionava tipo relógio. 

Falámos sobre muitas coisas, até sobre o Pecado Original...imagine-se!

Um dos temas de que falámos mais foi de arquitectura. Tenho uma discussão com a Guiomar sobre arquitectura: ela diz que não gosta de arquitectura moderna. Eu digo-lhe que o Gótico já foi "moderno" e que, se bem que haja algum mimetismo na arquitectura moderna (como se calhar houve em todas as épocas, pois o fenómeno das modas é assim mesmo), há excelentes arquitectos na actualidade: dei-lhe o exemplo do Peter Zumthor, da Fundação Calouste Gulbenkian.

Com o Nuno, tive uma longa conversa sobre ser-se advogado. Uns dias antes, já tinha tido também com o Nelson uma conversa sobre esse tema. Já não me lembro exactamente do que falei com o Nuno, mas uma das questões prendia-se com a minha evolução como jurista. Ele disse-me que é uma questão de ir estudando. Penso que neste aspecto há textos de Lincoln muito bons que diz que é essencialmente uma questão de vontade e de ler, ler... e para isso não é relevante o local onde o façamos. Mas lembro-me que nos sentámos à volta da mesa da cozinha e falámos, falámos, falámos enquanto o Bruno assistia.

Jogámos Catan. Era giro organizarmos mais vezes jogarmos Catan e outros jogos como o Trivial. Falámos sobre o xadrez. Fomos a Évora e lanchámos na Pousada dos Lóios, ao lado do Templo Romano. Depois regressámos e fomos à outra Pousada dos Lóios, desta vez em Arraiolos.

Em Arraiolos encontrámos a Lívia Franco. 25 anos de casamento. É obra!

Passei 7 dias em boa leitura e boas conversas nos Açores. Depois fiz um "soft opening" em Lisboa do meu trabalho, coisa que foi uma boa idéia: preparar as coisas com calma, para as responsabilidades de trabalho que se avizinhavam.

Uma das coisas que mais me satisfaz ultimamente é de ter o meu escritório e a minha casa arrumados. Penso que tenho ganho esta batalha e ser-se arrumado nas coisas é meio caminho andado para se ter também uma vida mais ou menos arrumada.

Meditei esta semana sobre se não era bom ter-se sentido da impossibilidade de fazer mais no espaço das 24 horas do dia. Perguntei-me "será a minha natureza andar sempre a querer fazer mais do que aquilo que posso?" Tenho 10 coisas a acontecer simultaneamente. E se eu fizer em vez de 10, apenas 5?!" Pensei naquele jogo que jogávamos quando éramos muito novos em que tínhamos que apanhar ovos num aviário e o ritmo ia sempre aumentando...

Is "less more"?! Devemos ser tartarugas ou lebres?! É verdade que também descubro em mim capacidade de me organizar na limitação do tempo e de ser eficaz a fazer as coisas. Por vezes temos que encaixar muitas actividades e não temos muito tempo. Mas uma vez mais penso que o truque está em sermos aquilo que se chama "contemplativos na acção". O ritmo não é sempre o mesmo, há momentos em que nos entregamos a um ritmo acelerado, mas temos que ter um "núcleo" dentro de nós que dê sentido ao que fazemos. A nossa vida tem uma identidade que integra as coisas que passam por nós. Tem que haver esta "destilação" do que nos acontece. Não pode ser apenas a soma de elementos destituídos de apropriação. Por isso, uma vez mais penso que a palavra de toque é que saibamos fazer uma narrativa.

É muitíssimo importante conseguir escrever uma narrativa sobre o que nos vai acontecendo. Por isso para mim é essencial a identidade. Não perder o fio narrativo, mesmo que com todas as curvas e contra-curvas em que se trama a nossa vida. Não há vidas lineares, mas é possível contar uma história sobre ela: esta semana falava com clientes meus sobre a minha experiência de Paris e eles ficaram surpreendidos com um advogado ter estudado ciências de educação... talvez não seja vulgar, mas creio que aí está sinal da minha particular afeição às ciências humanas. Em bom rigor também isso me ajudou a ser melhor advogado, a perceber melhor o ser humano (em leituras que tenho feito recentemente, por exemplo Urs von Balthasar, parece evidente que o segredo do homem está em voltar a ser criança, tal como Jesus exortou o seus discípulos a sê-lo; as feridas do ser humano também se explicam pela orfandade afectiva que se possa ter vivido nos primeiros anos da vida).

A minha dificuldade está no presente momento em, sabendo que vivemos na terra da carência e que há que optar, em ter fome e sede de muito... e apenas poder cumprir uma parte...





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