Em férias


Em férias. Tempo para gozar, para realizar em nós o sonho de viver em suspensão, leves e bem-dispostos.

1. Trouxe o livro "O Mapa e o Território", de Michel de Houellebecq. 

É um bem urdido romance, conta a história de um artista (fotógrafo e depois pintor) e lê-se com deleite. Somos surpreendidos pela criatividade com que o romance segue, depois do sucesso um tanto ou quanto inesperado da personagem principal, o tal artista. Há algo de cru, de amargo nesta narrativa: o próprio sucesso do artista é determinado por factores alheios a uma intencionalidade certa; é fruto dum mundo apostado em interpretar os dados duma realidade complexa, também com enorme necessidade de identidade e do "back to basics", por outro lado, não isento das leis impessoais e frias do mercado, onde tudo tem um preço. Por isso, ficamos reféns da ambiguidade. Se bem reflectido, o próprio título do livro - que poderia ser o de um manual técnico de ordenamento do território (!) impele-nos a pensar que mapa e território é, igualmente, o desenho que fazemos das nossas vidas, percorrendo um caminho em muito determinado pelas nossas circunstâncias, de opções limitadas, cujos resultados na verdade não controlamos. As relações entre as pessoas e, a solidão de cada uma, reflecte a dificuldade do viver, em que os encontros são geralmente efémeros e circunstanciais.

2. Há cerca de 15 dias terminaram as JMJ. 

Muito se disse e se escreveu sobre isso já. Quero apenas destacar que vivemos dias em que se marcou de maneira incisiva que há algo que paira no ar e que não é apenas a prosa dos dias: é o mistério que se esconde na vida e que nos faz gozar um pôr-de-sol, ou uma manhã fresquinha e sentir que a vida tem algo de transcendente. É para mim isso o que fez com que se vivesse em comunhão durante a semana das JMJ, acordando numa madrugada - e juntamente com mais de um milhão de pessoas, para assistir um lindo nascer-do-sol, ao som de ritmos modernos  colocados em alto som por um padre dj. É possível ser moderno e acreditar na transcendência.

Férias, tempo para viver. Assim, procurando o brilho nos olhos e o sabor das coisas. Tempo de poesia, fazendo bailar os minutos, com paz, tentando enxergar a beleza das coisas.


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