O que é uma Comunidade?
Comunidade é interessar-se pelas pessoas. É lembrar que o sobrinho estudante de Engenharia é o menino querido da tia Olga e rejubilar com a amarga solteirona quando ele passa nos exames e obtém a sua licenciatura. É deslocar-se a um subúrbio remoto para visitar a chorosa «Paulinha», a quem uma empregada da família já falecida tinha criado e amado. É arrostar com a artrite, subindo cinco lanços de escada e descendo os mesmos cinco lanços para trazer pastilhas da tosse a uma velha prostituta que se tornou vizinha por parar à esquina da rua durante anos enquanto espera por clientes.
O mundo do Burgher e da sua comunidade era pequeno e estreito, de vistas curtas e asfixiante. Cheirava a esgotos e afogava-se na sua própria má-língua. As velhas idéias nada valiam e as novas eram imediatamente rejeitadas. Havia exploração e ganância nesse mundo e as mulheres sofriam. Como a contenda idiota da Avó por causa do apartamento, podia ser mesquinho e rancoroso. Mas os valores que possuía - respeito pelo trabalho e pelo profissionalismo, preocupação com o próximo, os valores que formam uma comunidade - são precisamente os valores que faltam no séc. XX e de que ele precisa. Sem eles, não é «burguês», nem «socialista»; é «lumpemproletariado», como o rapaz da suástica.
in "Memórias de um Economista, um Homem entre dois Mundos", DRUCKER, Peter F, Difusão Cultural (1995)
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