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A CASA - VINICIUS DE MORAES E TOQUINHO

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4. Beleza e contemplação. Quadros

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Esta manhã pus-me a pensar porque escolhi os quadros e as fotografias que tenho na parede. Há evidentemente um sentido estético que procuro – quero que eles fiquem bem onde escolhi. Por outro lado, gosto que eles tenham a ver com o espaço. Na minha casa tenho espaços mais sociais e espaços mais íntimos. Da mesma forma que nas cidades temos torres de Igreja onde a cruz se mostra e faz lembrar que Deus ai está, apesar das nossas distrações, termos imagens com que nos cruzamos no dia-a-dia relembram-nos o que é importante. São como que mnemónicas, auxiliares de memória. "Art as Therapy" lembra-nos logo no início que essa é uma das funções da Arte. Há aqui uma função eminentemente pedagógica – o mesmo sucede nas imagens nas Igrejas que são catequéticas e que num tempo de analfabetismo eram como que lições bíblicas. Nos quadros de minha casa procuro algo que seja inspirador, uma espécie quase de ideal de vida: no aperto de mão do meu avô que estamos em relação com os ...

Coida o teu xardin

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Médicos e Advogados

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Ouvir um advogado da velha guarda é como ouvir o século XX, ou o século XIX, ou qualquer outra centúria ainda marcada pelas artes liberais. A figura clássica e em vias de extinção do advogado letrado é mesmo a nostálgica corporização do passado que está a desaparecer como a areia de uma ampulheta quebrada. Sim, em vias de extinção: o advogado clássico, homem de leis e letras, está para a sociedade como o lince está para a natureza. E esta rarefação do advogado é dramática para a sociedade, em primeiro lugar, e para os próprios advogados, em segundo lugar. Um jovem advogado que perceba apenas e só de leis está condenado, será um técnico de leis facilmente substituído pelo algoritmo. Para ser um advogado com uma compreensão da sociedade e do ser humano, o jovem amanuense das leis precisa de literatura, cinema, história, antropologia. E passa-se o mesmo com os médicos. Ainda há dias, ouvi um médico e professor de medicina dizer que é urgente recolocar as humanidades no centro do cu...

Confiança Paciente

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                                                Henrique Pousão, "A Velha a dobar", 1881 Acima de tudo, confia no trabalho lento de Deus. Somos, naturalmente, muito impacientes em tudo para chegar ao fim sem demora. Gostaríamos de saltar os estágios intermediários. Ficamos impacientes por estarmos a caminho de algo desconhecido, algo novo. E, porém, a lei de todo o progresso diz que este é alcançado ao passarmos por alguns estágios de instabilidade - e que isso pode levar muito tempo. E, então, penso que o mesmo acontece contigo; as tuas idéias amadurecem gradualmente - deixa-as crescer, permite que tomem forma, sem pressa indevida. Não tentes forçá-las, como se tu pudesses ser, hoje, o que o tempo (ou seja, graça e circunstâncias, agindo em sua própria boa vontade) fará de ti, amanhã. Só Deus poderia dizer o que este novo espírito gradualmente a ...

Tivoli, Memorias da Avenida

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Há uma herança que os que nos precederam deixaram e que é tão importante quanto as coisas físicas que nos passaram. Uma forma de estar e de cuidar do mundo, de olhar para e por ele. É um património imaterial, se quisermos "espiritual".   O livro "Cinema Tivoli, sobre a história de mais de 50 anos desta sala emblemática de Lisboa, é uma homenagem sentida - e agradecida - a tantos que foram "humildes servidores" da beleza e das artes. Antes de mais aos artistas, àqueles que fizeram sonhar, tornando as vidas daqueles que assistiram aos seus espectáculos, nem que seja por alguns instantes, lugares habitados pela poesia. Na efemeridade dum espectáculo somos por vezes visitados pelos anjos. Lembremo-nos do filme "Rosa Púrpura do Cairo", de Woody Allen, em que acontece o impossível:  a espectadora entra para dentro do filme, impulso que muitas vezes é o nosso, mas que, na realidade, se torna a metáfora por excelência de toda a grande obra de arte. Men...

3, Beleza e contemplação. Na fragilidade do equilíbrio...

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Se me pedisses para escolher um quadro, uma escultura, um qualquer objecto de arte, o que traria comigo?  Gosto muito de Monet e das suas paisagens. A pintura impressionista é bela e dá alegria à vida.  Há um pintor holandês que me impressiona pelos ambientes interiores que cria, seu nome é Vermeer. Ele pinta o simples, pinta as pessoas no seu ambiente natural. Penso que é George Steiner que dizia que ele é tão bom que consegue pintar o silêncio. Dos pintores que mais me comovem certamente que Cézanne é um deles. Eu acho que há nas suas naturezas mortas algo de espiritual, uma luz que resplandece. Uma simples cesta de frutos é uma simples cesta de frutos, mas há nela uma tal irradiação que dá vida. É uma natureza morta... que vive, que tem luz própria. Outro Mestre que tem o condão de nos fazer despertar para a alegria de vida é Matisse. Faço uma citação (Matisse, Taschen): "A Clara MacChesnay, que se admirava, em 1913, que uma obra tão «anormal» tivesse com...