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“Os Noivos”, de Manzoni

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Um casal de noivos ("I promessi sposi", dá o nome a este romance de Manzoni), ela Lúcia, ele Lorenzo (ou Renzo), são as personagens principais dum enredo passado no Norte de Itália no início do séc. XVII, num tempo em que o direito da força ainda prevalece sobre a força do direito. Dom Rodrigo, capo senhor de um bando armado de malfeitores que grassam ainda e que são avessos a todos os éditos que proíbem a violência, é a tal expressão da força que, tomado de apetites pela noiva, proíbe o mui pusilâme Dom Abbondio de unir em casamento o casal. O cura da aldeia revela-se em todo o longo romance um homem fraco e temeroso, indigno do Magistério ao qual foi chamado. Mas ele não é senão a figura passiva, e titubeante que não se opõe ao mal e que precipita toda uma correria desenfreada, pois os noivos empreendem uma fuga tal como coelhos que fogem da raposa. Os diálogos são vivos e interessantes. Pela intervenção dum frade, Cristoforo, homem de discernimento e de bom conselho, Lúc

O que é uma Comunidade?

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Comunidade é interessar-se pelas pessoas. É lembrar que o sobrinho estudante de Engenharia é o menino querido da tia Olga e rejubilar com a amarga solteirona quando ele passa nos exames e obtém a sua licenciatura. É deslocar-se a um subúrbio remoto para visitar a chorosa «Paulinha», a quem uma empregada da família já falecida tinha criado e amado. É arrostar com a artrite, subindo cinco lanços de escada e descendo os mesmos cinco lanços para trazer pastilhas da tosse a uma velha prostituta que se tornou vizinha por parar à esquina da rua durante anos enquanto espera por clientes. O mundo do Burgher e da sua comunidade era pequeno e estreito, de vistas curtas e asfixiante. Cheirava a esgotos e afogava-se na sua própria má-língua. As velhas idéias nada valiam e as novas eram imediatamente rejeitadas. Havia exploração e ganância nesse mundo e as mulheres sofriam. Como a contenda idiota da Avó por causa do apartamento, podia ser mesquinho e rancoroso. Mas os valores que possuía - respeito

Sábios

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O filósofo Josep Maria Esquirol pode não ser o melhor dos oradores, mas a reflexão que tem vindo a fazer é um convite irrecusável que nos faz a leituras proveitosas de reencontro connosco e a afinar as nossas cordas interiores. "Resistência Íntima - Ensaio de uma Filosofia de Proximidade", é um percurso pela condição humana de pequenas verticalidades num espaço horizontal, i.e., existir é para Esquirol um acto de transgressão contra a desagregação que nos leva, com o tempo, ao normal da horizontalidade. Segundo o autor " a ideia de resistência permite desenvolver uma reflexão num duplo registo que se pode entrelaçar. Por um lado, uma filosofia da proximidade que centra a atenção no outro - o amigo, o companheiro, o filho -, no ar que se respira, no trabalho, no quotidiano..., bem como nas articulações do si-mesmo (memória, sentimento, esperança...). Capas de intimidade, articulações complexas e variáveis que são abrigo íntimo, resistência íntima; uma resistência que disp

Sebastião Salgado e os estados psicológicos

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O grande fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado conta que o trabalho que fez designado "Exodus", em que retrata pessoas em fuga de guerras (creio que uma delas é o Ruanda) o expuseram de tal forma ao lado negro do Ser Humano, que ficou profundamente abalado, em estado de depressão. Foi um projecto longo e difícil, que o levou a procurar ajuda, porque acabou por não se sentir bem do ponto de vista psicológico, acumulando tensões e uma enorme descrença na bondade da vida. No seu trabalho seguinte, designado "Génesis", Sebastião Salgado veio tentar combater a tristeza que carregava com a beleza e magnificência da natureza. Muito desse trabalho é também feito no mesmo Ruanda, onde se deram os mais terríveis massacres de que a Humanidade viveu no limiar do séc. XXI, retratando agora selva e a riqueza da sua vida animal. Não tenho dúvidas de que somos bastante condicionados pela forma como o que se passa no nosso dia-a-dia nos cria boas ou más emoções.    Sebastião Salga

Há dias felizes, viagem a Castelo Branco

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Com passo apressado fecho a porta do escritório, saio para a rua e passados 20 minutos avio a minha mochila com o essencial para uma noite fora de casa. Destino: Castelo Branco. Meio de transporte: combóio regional da CP, com saída marcada para as 4 da tarde em Santa Apolónia. Véspera de 3.ª feira de Carnaval, dia de trabalho, alguns telefonemas pelo caminho. Uma viagem um tanto ou quanto longa, sobretudo porque uma grande parte dela já de noite. Chego a Castelo Branco pelas 20h00, ando uns 10 minutos e estou no Largo da Devesa, uma das principais praças da cidade. Sem bateria no telemóvel, vou jantar com o principal propósito de recarregar o aparelho, o que me permitirá ver os códigos da porta de entrada do AL e, assim, dormir debaixo dum tecto. Mas o jantar revela-se extraordinário: um óptimo caldo verde, seguido de ovos rotos com cogumelos e 6 croquetes de alheira. Dois copos de vinho serrano, uma maravilha. Foi um bom começo esse, no "Ponto Wine Garrafeira"! Ssorria-me a

Como uma árvore

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Não sei se é qualidade ou defeito andar sempre com imensas ideias e projectos. Esta semana sentei-me na Livraria da Travessa a ler um livro chamado "Foco", de Daniel Goleman. Nem de propósito.  Depois, esta manhã, sentei-me a escrever a quantidade de coisas em que me meti nos últimos dias. Fui dar uma volta de seguida e, quando voltei, lembrei-me que eram mais ainda os assuntos... Depressão. O tema atrai-me. Não sei porquê, talvez porque tenha vivido debaixo dela. É incrível como podemos não nos aperceber que o céu por cima de nós está cinzento, mas que pode haver sol. Há quem pense que o cinzento pode ser a cor normal do céu. E não será assim. A atmosfera pode ser mais leve, o céu pode ser mais azul.  Porque já na vida acumulei um capital de experiência que me permite perceber como nos podemos orientar para sermos mais felizes, por certo poderei com isso ajudar outras pessoas. É simples. Ao procurarmos essa vida feliz, é muito importante que sintamos que somos de alguma mane

Os Maritain

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Num mundo intelectual onde a ruptura com a fé e a perda do sentido pesavam, prometem-se mutuamente que acabariam com as suas vidas, se dentro dum ano não encontrassem uma solução para o grande desnorte em que se sentiam envolvidos.  Jacques e Raissa Maritain, um casal apaixonado, não encontram nos seus estudos da Sorbonne nada que os leve a encontrar essa saída - e é apenas quando lhe falam de Henri Bergson e começam a frequentar as suas aulas, no College de France, que iniciam a caminhada que os leva a vir a encontrar o "caminho para casa". Vêm a descobrir Deus, baptizam-se. Ela mais mística, contemplativa, dedicada à poesia; ele, por sua vez, um pensador de "primeira água" de quem o Papa Paulo VI  disse quando morreu aos 90 anos: "perdemos um mestre na arte de pensar, de viver e de rezar".  Apostado em pensar o mundo contemporâneo com fundamentos sólidos, Jacques Maritain encontrou em São Tomás de Aquino - que fora bebera em Aristóteles, uma filosofia da