Cega, surda e muda. Assim ficou Helen Keller nascida em 1880, saudável, depois de aos dezasseis meses adoecer com febres muito altas. Certo dia passeava com a sua tutora, Anne Sulivan. Quando passaram por uma fonte Anne pôs a mão de Helen debaixo de um fontanário que jorrava água fresca. Ao fazer isto, escreveu, letra a letra, com um dedo seu a palavra W A T E R na palma da mão de Helen. Ela sentiu uma alegria imensa ao poder relacionar as duas coisas. Sentiu prazer nessa relação, sentiu prazer por essa ligação que se fizera. Atribuiu sentido a essa acção e, a partir dali, não mais parou. Nesse dia aprendeu 30 palavras.
A Rainha Santa, 700 anos depois da sua peregrinação a Santiago de Compostela
O que poderá uma santa do longínquo séc. XIV português dizer-nos 700 anos de depois? Exercício ousado para quem não é teólogo nem historiador… mas creio não dizer nenhuma asneira se disser que a vida na Idade Média era em geral bastante mais difícil do que é hoje e que vivemos num mundo muito diferente. Deslocamo-nos facilmente, comunicamos em tempo real para o outro lado do planeta, um número alargado de confortos e distrações está ao alcance da generalidade da população das nossas cidades. Confesso que sempre me causou alguma estranheza o tom com que é descrita a vida na “Salve Rainha”, oração atribuída ao monge Hermano Contracto, que a teria escrito por volta de 1050, no mosteiro de Reichenau, no Sacro Império Romano-Germânico: “(…) A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei. E, depois deste desterro, nos mostrai Jesus, bendito fruto do Vosso ventre (…)”. Todavia, se tivéssemos em conta qu...
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