No espaço público

A grande tibieza que cometem os ricos e poderosos é que eles se afastam do espaço público, permitindo que sobre eles recaia a suspeita de "panelinha".  Gandhi falou dos pecados sociais e um deles é o da riqueza sem trabalho. Ao se afastarem, querem eles dizer que têm vergonha, que têm algo a esconder? - por vezes parece. A expressão do humano completo é a de se dar e apresentar no espaço público, tal como no espaço privado cada um se dá aos seus. Pode viver-se no espaço privado apenas - ou num conjunto de espaços privados com mais ou menos dimensão, mas sempre privados, o que vai dar ao mesmo: círculos fechados, sempre. Limitam a expressão do humano, que se dá e apresenta restritamente.

Admiro pois figuras públicas como Gonçalo Ribeiro Telles, que não esconde um tradicionalismo filosófico numa expressão apenas privatística, algo que poderia ser expressão duma limitação de círculo e de acidentes de percurso e recalcamentos. A sua posição é de base filosófica existencial e tem a coragem de se apresentar no espaço público. Poderia ser rotulada de retrógrada, de reaccionária. Mas ela é articulada, fundamentada. E por isso mesmo também respeitada.

Aqueles que sabem falar ao povo e mesmo assim manter a simplicidade, como nos apresenta Kipling. Simplicidade não de estilo, mas de carácter, de veracidade. Como no-lo testemunhou sem dúvida Ratzinger, ele mesmo um aristocrata, um nobre. Aristocrata e nobre de carácter.

A dimensão do espaço público é algo que acontece sobretudo por generosidade. Porque ela, na verdade é uma violência. Porque não apenas nos retraírmos nas delícias da vida privada, no cultivo dos nossos hobbies - na Botânica, ciência poética dum Bagão Féliz?! Dimensão ética da vida, certamente.

Numa multidão que se acotevela, é preciso que alguém se chegue à frente. Que questione, que interpele, que aplaque a raiva, a angústia, que sugestione. Não usar da voz, provocaria um problema de consciência.

Esse é um lugar difícil.


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