Miguel do Comité das Regioes

Parecia-lhe um pouco grosseiro aquele americano. Grande e desajeitado, com piadas vulgares, na verdade a falta de maneiras nele em nada o surpreendia, manifestação dessa enorme classe média que faz a América ser América. Mas o que ele tinha de grosseiro tinha também ele de simpático, e não podia deixar de o considerar como parente próximo.
Maud estava na Alemanha. Já não se viam há mais de 2 semanas. Quando estiveram pela ultima vez, esquiando em Leogang na Áustria, ficaram naquele pequeno hotel, muito apetecivel, todo de madeira e onde serviam um pequeno-almoço com pão quente. Não dispensava também aquele apfel strudel com baunilha ao almoço, depois duma manhã tranquila pelas pistas. O que tanto apreciava em Maud era a sua forma de estar tão discreta e, ao mesmo tempo, tão atenta: os últimos tempos tinham sido tempos interessantes e havia muito para comentar. A Rússia e Putin, com a sua vontade de alargar de novo a sua esfera de poder, invadindo a Crimeia e pondo de alerta todo o mundo. Depois do acordo com os EUA, em que manifestaram uma posição de mediação num conflito que podia estalar numa intervenção militar da NATO, por razões humanitárias, um novo capitulo revelava uma Rússia que não se deixa descobrir e nos surpreende, para o bem como para o mal: Mr. Jekyll and Mr. Hide. Tudo isto fez que não apenas a América procurasse os seus aliados habituais do outro lado do Atlântico, contando-se entre eles com o motor da Europa, a Alemanha, mas que a própria Europa se unisse para responder a essa ameaça às portas do seu espaço comunitário. Importante perceber essa Rússia, esse orgulho solitário. Os EUA e a Europa precisam um do outro e nem escutas a líderes europeus promovidas pelos serviços secretos americanos poderiam agora beliscar esta união de esforços que se impunha pelo interesse comum. Obama chegaria a Bruxelas dentro duma semana, numa viagem que pretendia convencer os lideres europeus a actuar coordenadamente com os EUA.
Sentia saudades de Maud que por esta hora estaria a preparar-se para sair para comprar uma sandwiche e um sumo para o seu almoço.
Na Áustria também falaram um pouco sobre as eleições europeias, que já não tardariam: Durão Barroso saíria e seria provável que muita coisa mudasse. O Comité das Regiões ainda continuava a ser para si um desafio. Viajar pela Europa, comparando a enorme diversidade de regiões e trabalhar para criar um sentimento de pertença ao mesmo espaço. Sentia-se profundamente europeu, era nesse espaço que se sentia em casa e, quando olhava para outras partes do mundo, sentia que foi na Europa que se atingiu o maior desenvolvimento humano e o maior progresso. A história e a cultura europeias. E não sentia que as línguas fossem um entrave para essa união: as línguas são antes factores muito próprios da Europa e devem ser valorizadas porque revelam a riqueza de cada uma das nações que a percorrem. Se há uma unidade de destino na Europa? Claro que sim, não é a luta contra esta usurpação da Ucrânia um exemplo? Não será também o esforço humanitário em Africa em missões para o desenvolvimento a mesma coisa? E não têm sido os avanços de integração coisas notáveis? O Erasmus, a possibilidade de viajar dentro da União Europeia, de usar a mesma moeda?...

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