Democracia directa

No outro dia tive uma discussão com um amigo meu. Ele dizia que odiava o Costa, que ele era um sem carácter. É muito difícil discutir com alguém que apenas se baseia em ódios/amores pessoais, pois não há argumentação possível. O que eu lhe dizia é que sob o plano jurídico e até no jogo democrático-representativo que é o que temos hoje em dia nas nossas sociedades, é perfeitamente possível um governo cair na assembleia e foi o que aconteceu. Ele dizia que o que ele fez foi trair a confiança dos portugueses, que devia então ter dito que iria formar uma coligação, coisa que ele nunca disse que iria fazer. Eu não sei se ele deveria ter dito, o que me parece é que ele não sabia que iria perder as eleições - essa é que é a verdade. E depois tudo são conversas. 

Lisboa está debaixo de grandes obras públicas. Praças, avenidas. Não tenho dúvida que tudo ficará melhor. Muito mais verde. E certamente melhor. É assim que deve ser a tendência, cidades mais agradáveis para se viver. Mas muitos são os críticos. É raro ouvir algum elogiar. Mais uma vez acho que as pessoas alinham sobretudo por um discurso de filiação partidária, ou simplesmente por um velho costume nacional de dizer sempre mal da mudança. Parece-me que Manuel Salgado ficará conhecido por ter sabido revolucionar a cidade de Lisboa. Estamos ainda para ver como será o trânsito pós obras. O desejável era que ele tivesse oportunidade de demonstrar que terá capacidade para pensar e resolver essa questão. Jaime Lerner, Curitiba, a todos estes níveis deve ser escutado.

A democracia está a mudar. Hoje votamos com os "pés", em manifestações, nas praça, nas ruas, nas redes sociais. Há sem dúvida uma crise da democracia representativa. São muitos os exemplos disto. Desde o Brexit em Inglaterra, que ninguém acreditaria, até à forma como hoje se faz política. Vemos como a própria liderança está a mudar: De Gaulle dizia que a liderança para ser respeitada tem que ser distante; hoje ninguém quer ser respeitado, quer-se ser amado, e para ser amado é preciso ser próximo. Penso que Marcelo Rebelo de Sousa é isso que está a tentar fazer. Ele não se faz ouvir como instituição, ele faz-se ouvir sobretudo por quem é. O difícil será fazer com que o carisma pessoal deste ou daquele, que ganha hoje eleições seja depois institucionalizado. Será isso o que conseguiu Obama. Mas caímos no perigo de acabar mesmo no populismo, e o que se está a passar nos EUA com Trump é sintomático disso mesmo. 

Existe hoje um enorme escrutínio, propiciada pelos meios de comunicação social. Essa também é a razão porque temos hoje uma democracia muito mais destitucionalizada, menos representativa, muito mais directa. Diziam-me há dias que muita gente não queria ter dinheiro nas off-shores apenas por razões "reputacionais".  Ou seja, declarava que o tinha às Finanças, era tributado em Portugal a título de regimes fiscais mais favoráveis, cumpria tudo, mas simplesmente não queria por motivos reputacionais. Confesso que não sei porque é que alguém mete o dinheiro em off-shores, mas se o declara e paga os respectivos impostos, não está a fugir à lei e não devia ter medo que tal fosse revelado. Mas parece-me que por detrás dessa questão de reputação, há um sentimento (que me parece legitimo) de que se tentou ser mais "esperto" que o comum dos cidadãos e que há uma certa injustiça nesse procedimento.


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