Sicília

Perto de minha casa, no Poço dos Negros, sinto-me em Palermo, Sicília. Os prédios apalaçados em ruína, a sujidade e o calor que liberta os odores, a roupa pendurada nas janelas. No ano passado, o meu Verão, passei-o na Sicília.  

Não sei porquê, mas há um em mim que gosta disto, da sujidade e da "ordure". Há um em mim que gosta de andar assim, de calções e t-shirt, de mochila às costas. 

Adoro cidades, adoro o movimento que as cidades têm. Da mole de gente que se "passeia" pela cidade. 

Se gosto de Estocolmo, também gosto imenso da Baía. Se gosto imenso de trabalhar, também gosto imenso da moleza duma "tarde em Itapuã". 

Assim, ontem, enquanto bebia uma caneca de cerveja e um pita shoarma no Poço dos Negros, a minha mente voava para Palermo, para aquela rua suja, rodeada de lindos mas decrépitos palácios e que é a grande artéria dessa cidade, que passa pela catedral. Pensava em Lampedusa, recordava-me de Nicoletta Polo, casada com Giachino Lanza Tomasi, filho adoptivo do romancista e que nos mostrou a casa onde terá sido escrito "il Gattopardo". Um romance tão bem escrito, tão ilustrativo duma época e dum local. Lê-se o Leopardo e respira-se a Sicília, o sul de Itália. Vim muito feliz para casa.

O que é o ideal de civilização? É muito difícil de o dizer. 



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