Gonçalo Mendes Ramires, dos ilustres Ramires de Santa Irineia

Gonçalo Mendes Ramires, dos ilustres Ramires de Santa Irineia, fidalgos mais antigos que o próprio Reino. D. Quixote andou pelas leituras de Eça. Nota-se porém o desmorecimento da raça e o idealismo fica-se apenas nas intenções e nas palavras e Eça goza com Herculano, pintando um ideal de cavalaria que é senão uma projecção da nossa necessidade de encontrar heróis e construir mitos. 
A inconsequência de Gonçalo, a sua inconsistência e contradições: o urdir da personagem no confronto com o desenrolar dos acontecimentos e a vontade de ser "alguém" é muito cómico. Um alguém que se faz muito mais por força do status quo, do lugar que lhe supostamente lhe é devido por ser um ilustre "Ramires", do que por um trabalho interior. Ele apenas é escravo das imagens de si, dos idealismos de sua juventude e da posição social que lhe confere o tempo e os meios para não ter que trabalhar verdadeiramente. Não há nenhum verdadeiro empenhamento que vem da responsabilidade, apenas a caridadezinha e a frase gandiloquentes.

Vemos Eça de Queiroz rindo por detrás de tudo, desfiando este novelo com paciência de ourives e requintes de um verdadeiro contador de histórias.

E tudo faz pensar, na verdade, o que queremos bem das nossas vidas? Pelo meio, entre passeatas pelo rio pegamos no livro e lemos mais um bocadinho…Ter um pouco de tempo para saborear este romance, em que o talento deste mestre escritor pinta cenários em que entramos por completo na narrativa e nos pomos a rir sem parar com o rídiculo de muitas delas, é realmente uma sorte. E pede um sítio próprio, um momento especial. A seguir a uma boa refeição. Num dia bonito de fim-de-semana, sem pressas.

O Princípio e Fundamento Inacianos diz-nos: "o Homem foi criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e assim salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o Homem, para que o ajudem a conseguir o fim para que é criado. Donde se segue que há de usar delas tanto quanto o ajudem a atingir o seu fim e há de privar-se delas tanto quanto dele o afastem. Pelo que é necessário tornar-nos indiferentes a respeito de todas as coisas criadas em tudo aquilo que depende da escolha do nosso livre-arbítrio, e não lhe é proibido. De tal maneira que, de nossa parte, não queiramos mais saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que breve, e assim por diante em tudo o mais, desejando e escolhendo apenas o que mais nos conduzir ao fim para que fomos criados".

O que é que nos aproxima de Deus?
O que nos afasta de Deus?

Nisto S. Inácio  diz-nos que o sentimento de consolação/ou desconsolação são bons indicadores.
Ajuda ter um orientador espiritual para que possamos ver as coisas com clareza e o discernimento é um trabalho paciente, no tempo. E ajuda termos os pés na terra!

Gonçalo  Mendes Ramires não é um homem livre, acaba por ser escravo do que pensa que os outros vêem nele.

Gonçalo Mendes Ramires, estou ansioso por continuar a leitura!

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