Manifesto anti-informática

Não gosto nada de informática e fico revoltado quando a máquina não faz o que quero!
Eu sou das humanidades, do contacto directo, não mediado pela máquina. Sobretudo quando a máquina não funciona! A internet que tenho (o wifi, ou como isso se chama) não presta e estive quase 30 minutos à espera antes de poder começar a escrever este texto. Mas já agora aproveito para dizer mesmo que não gosto de máquinas e que tenho quase raiva a quem gosta destas coisas.

Quando trabalhei num escritório com mais pessoas, havia o chamado "grupo dos gadjets" e eles volta e meia levavam-me com eles para, imaginem, o Colombo! Iam almoçar e depois enfiavam-se na FNAC e na Worten. Que horror, ir à FNAC para ver computadores! (Eu só ía porque apesar de tudo adoro livrarias, e a FNAC é uma livraria).
Eu não gosto de computadores! Não gosto de máquinas! Tenho horror a aparelhos. Tenho horror sobretudo quando avariam. 
Eu sou das humanidades.
Eu sou um velho. As pessoas  devem-me achar um velho.
Eu prefiro andar de táxi porque gosto de falar com o taxista. Eu gosto dos taxistas. Também gosto dos da uber. Mas prefiro à velha portuguesa. Ainda não me habituei lá muito a trataram-me pelo nome. "Chama-se Duarte?"
Eu quando falo com pessoas mais novas elas devem-me achar um velho. Sou irmão mais velho e sempre olharam para mim como o mais velho, o irmão mais velho. 
Para mim ler um livro dá-me prazer. Para mim uma conversa dá-me prazer. Jantar dá-me prazer.
Dar um passeio é algo que me dá prazer. Cheirar uma flor dá-me prazer. Sou capaz de parar na rua se sinto um cheiro agradável. Este fim-de-semana senti um cheiro de que me lembro na infância.
Eu consigo perceber que também podemos conversar por skype. E ainda bem que há skype (ainda bem que há skip também e que já não têm as senhoras que ir para os tanques lavar a roupa - é claro que se perdeu em convívio a mudança para o skip). Mas eu acho que quem gosta de informática são pessoas que normalmente não gostam de estar à conversa. Porque se não gostariam de estar à conversa com um copo de vinho mão!  


Comentários

Monserrate disse…
Passei várias vezes por este título e nada me disse… até que o abri e li. É um texto simples, direto, verdadeiro… Tenho a estranha sensação, que podia ter sido eu a escrever… cada afirmação, cada constatação…

Vivemos na era das redes, das comunicações e acho que nunca se falou tanto de solidão. Andamos preocupados em “captar” os acontecimentos da nossa vida para os “postarmos” … em termos o aval e feedback dos outros… em vez de nos entregarmos aos momentos. Estanho não?

Desfilamos nesta feira de vaidades, copiamos padrões, somos brutalmente influenciados, viramos consumistas compulsivos, na procura de aceitação… até hoje não sei bem qual! E rapidamente falamos todos do mesmo, vamos todos aos mesmos sítios, lemos todos o mesmo livro, bebemos todos o mesmo vinho, mesmo que não seja nada de especial. Onde fica a nossa essência no meio de tudo isto?

Aplaudo tudo o que de bom vier deste novo tempo, e não pretendo ser uma cega resistente, apenas desejo uma humanidade plena, cheia, diversificada, com alma… e não seres autómatos incapazes de pensar por si.

Discordo que essa “resistência” tenha a conotação de “velho”. Haverá sempre os que não compreenderão, quem não se identifique, quem não encontre nada em comum ... mas haverá, certamente, os que tentarão fazer este exercício de procurar o porquê, de quem escolheu o lado mais “antigo e castiço” da vida… Velha?! Tenho em mim uma leveza e uma puerícia que incomoda, inquieta, desmonta, provoca… e o bom e mau de tudo isso. Que estes novos tempos não me engulam, que eu não me deixe seduzir por eles… difícil… mas certamente possível!

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