5. Beleza e contemplação


Tempos de beleza e contemplação. Como nunca. 

Dia 21 de Março, a pé até São Vicente de Fora. Os pássaros vigaram-se. Numa grande excitação cantam o hino, no início da Primavera. Estavam fora de tom e dava-se por isso. Eu oiço, há mais duas turistas eslavas. Parece que o "maestro" se despediu, dizia que não havia mais condições para trabalhar por ali...

No Tejo, ouvindo o "maralhar" do rio, onde ontem lia Hans Christian Andersen em "Uma Visita em Portugal (1866)" (o Independente, 2001): "as árvores em flor desprendem um perfume bastante forte; é como se estivéssemos numa loja de especiarias ou numa confeitaria que preparasse gelados de baunilha".

Na Avenida, não há memória de tanto sossego. As botas do Colégio Militar ainda desfilaram garbosas. Estávamos a 3 de Março.

Em Braga li as palavras de Etty Hilesum:

"(...) acho que a vida é muito bela e que vale a pena ser vivida, e que tem sentido  apesar de tudo. E isso não significa que uma pessoa esteja constantemente na mais elevada ou crente disposição. Uma pessoa pode ficar morta de cansaço devido a uma longa caminhada ou à espera numa bicha, mas isso também faz parte da vida e algures há algo dentro de ti que nunca vai abandonar-te". Estávamos no início da Quaresma. Os céus estavam negros no Norte.

Cheguei ao Sul na Estação de Santa Apolónia. Os céus estavam abertos. Estávamos a 6 de Março.

Ainda saltei na noite, com amigos. Era uma 6.ª feira esse 6 de Março. Era uma 6.ª feira, estávamos na Quaresma... depois, todos se recolheram em casa. Como cristão vivo na convicção do 3.º dia.

Mas para mim, vivo já depois do 3.º dia.

Em Espanha há a diferença entre "soledad" e "solitud". Aproveito todas as horas e minutos e segundos. Sou dono do meu tempo. E todos os dias giro o tempo, olhando para esta cidade de luz em que os passarinhos cantam e tudo se fez silêncio, a ponto de se perceber que a vida é muito mais bela por eles existirem!



  

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