Tojal


Um dos sítios onde todos fomos mais felizes foi na piscina. Lembro-me que ela sempre foi muito usada por todos - mesmo a família alargada, apesar da Praia Grande. No Verão, aos Domingos, o almoço era muitas vezes lá. Começávamos com umas fatias de melão lembro-me também de comer uma coisa óptima quer era um pudim de peixe a seguir.
Era debaixo do telheiro e lá estavam também o avô e a avó.  
Ainda me lembro do tempo em que havia uns roupões que pareciam ser feitos de antigas cortinas e que se usava na piscina - e que tinham um capucho. O Tojal tinha assim algumas coisas que tinham vindo do tempo dos tios. Outra coisa eram os sacos de cama que estavam nos quartos das criadas e que nós todo os anos usávamos para os nossos acampamentos.
Na piscina do Tojal saltámos na prancha e mergulhávamos de todas as formas e feitios no escorrega. Penso que este escorrega era verdadeiramente único: mais ninguém tinha um escorrega assim, o que nos fazia sentir-nos privilegiados. E normalmente fazia-se uma fila para escorregar. Havia um tubinho por onde escorria um fio de água, mas também molhávamos o escorrega antes de escorregar com as mãos. E deitávamo-nos de cabeça no escorrega ou mesmo de costas: talvez o mais difícil.
Depois da praia, a piscina do Tojal atraía um cem número de primos da Quinta Velha, que por não terem uma acabavam por passar por lá, o que dava sempre um número alargado de pessoas e uma agitação constante. 
Nós, enquanto crianças, circulávamos entre a piscina e o ténis. Estendíamos as nossas toalhas na pedra quente da borda da piscina ou também no próprio ténis.
O Verão era também sinónimo de muitas jogatanas de ténis e isto até recentemente: depois dum mergulho, vestir as meias e sapatos e ir jogar. Grandes jogos tivemos lá. O Eduardo, o Martim ou mesmo com amigos.
Entre a piscina e o ténis era frequente também irmos apanhar ameixas, que as havia e muito boas, ao pé dos balneários.

Era sobretudo no Verão que o Tojal era mais divertido e significava: primos!
Chegavam o avô e a avó, o tio Thomaz e a tia Maria José, a Mariana e a Vera, a tia João, o Martim e a Bionda e as tias ainda solteiras, a tia Carmo e a tia Catarina. 
Era um sem fim de brincadeiras na relva: jogávamos às escondidas à noite e apanhávamos pirilampos, que recolhíamos em frascos. Uma correria que não parava! 
Durante o dia costumávamos ir à Praia Grande, tentando sempre adivinhar a côr da bandeira antes de lá chegar. Que grandes mergulhos dávamos! E que divertido que era! Lá encontrávamos muita gente da família - muitos que eram da Quinta Velha - e fizemos muitos amigos também.
Entre os Mayers havia uma forma de identificação muito evidente que eram as toalhas da Lisonda. Éramos muitos e a Praia Grande tinha uma nítida separação com os ditos lados dos "parolos". 
A ambição maior de todos nós era virmos de jeep da praia com o tio  Thomaz. Era a alegria maior, virmos em pé segurados à barra preta que o jeep tinha.
Não havia ano em que não fizéssemos um acampamento, entre os fardos de palha e com fogueiras e lanternas.
Com os tios passávamos na sala a vender colares de pinhões (que partíamos com pedras da calçada), ou chocolates Nestlé que trazíamos bem alinhados a seguir ao jantar e que tínhamos comprado no Bananeiro (onde vendíamos todos os anos uns caixotes de peras que apanhávamos).
Mas o Tojal, que no Verão se enchia, vivia todo o ano. Aliás, durante todo o ano havia almoços de Domingo onde todos nos víamos. Brincadeiras na relva, jogos de ténis naturalmente também depois do almoço. Nós almoçávamos na copa, a mesa abria-se ao máximo e nós primos invariavelmente bebíamos a nossa sopa derretendo queijo flamengo e depois uns óptimos frangos que vinham da própria quinta.
A avó ao lanche e quando todos estávamos no terraço no jardim, ou alguns a jogar ténis, normalmente preparava um lanche. Era muito simples: umas fatias de pão saloio com manteiga e limonada. Ainda me lembro destes lanches e de lá estar o Avô Maia ou a Lena Santos Moreira: "ó Lena eu gostava muito de ter um rebuçado!"
No Inverno, os chás eram uma instituição, com a lareira acesa e todos à volta da mesa.
Das asneiras muito a dizer. Desde as fúrias do avô quando íamos mexer nas ferramentas por causa de alguma bicicleta que precisava de arranjo, até aos pratos ou vidros partidos por causa de um qualquer pé menos certeiro ou mesmo aquele dia em que trepámos ao telhado para beber uma limonada! Tínhamos um temor reverencial pelo avô Augusto: não deitávamos um papel para o chão; os "leões" como nós os chamávamos eram sagrados e ninguém se aproximava deles se quer. E o avô que tinha o seu jardim sempre impecável.
O Tojal era uma instituição: lá vivíamos a Páscoa e o Natal também. Procurávamos os ovos da Páscoa no jardim e entrávamos em fila indiana na sala enquanto entoava um cântico de Natal.
Vivi lá como criança, com os meus irmãos e com os primos Mosers. Primeiro na casa grande, depois na nossa casa.
Trepámos a árvores, escondemo-nos em esconderijos e explorámos até para lá da Quinta, indo à procura do rio ou indo apanhar amoras. Fora da Quinta vivia a Rosa Patroca ou a Maria Amélia e a sua mãe, a Maria Emília. Eram outros tempos, em que ainda se ouvia também que as FP25 poderiam andar por ali e, por isso, uma ronda da GNR todos os dias vinha e dava uma volta à Quinta.


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