Uma paz interior

O contacto com os outros era para si um enorme prazer. Nunca achava que a relação entre duas pessoas o perturbasse minimamente, tinha antes a ideia do outro como aquele que vivia num mundo diferente, aquele que contudo vê, ouve e sente aquilo mesmo que ele via, ouvia e sentia; mas o enfoque era sempre diferente. O outro nunca o invadia, o outro sempre acrescentava, sempre o completava.

A sua visão não era crítica, era sim a do homem que toma tudo como novo, que está aberto a fascinar-se, a surpreender-se. Por isso sabia que por mais que encaixasse as pessoas em categorias: a dos extrovertidos, a dos activos, a dos tímidos, a dos valentes ou homenzarrões, cada pessoa tinha em si alguma coisa de próprio, de exclusivo.

Que enormemente redutores eram todas as teorias! Que mal era o socialismo, ou a explicação liberal do homem, dividindo as pessoas ora por classes, ora por liberais ou conservadores, nisto ou naquilo...

Gostava de ir gozando pouco a pouco as coisas que se lhe mostravam, não rotulava nada, não gostava de simplificações.

Vivia em paz consigo mesmo, sabia rir-se da vida e tinha com a vida uma relação de gratidão e reconhecimento.

A vida era bela… naturalmente bela porque ele tinha o dom de gostar imensamente dela.

Algo que para ele não existia era a vergonha: assumia-se completamente como era; não pudera escolher o sítio onde nascera, nascera numa família rica, com muita coisa e não tinha complexos absolutamente nenhuns daquilo que era a sua vida. Não alimentava complexos de culpa, não se retorcia a ver onde errara, porque errara; não havia cabalas, não havia perseguições.

Era, enfim, um homem lúcido, que via as coisas como elas eram, que gostava da vida naturalmente.

Uma coisa principalmente detestava: o exagero, o fanatismo. A sua vida era uma vida boa na verdadeira e pura acepção da palavra: não odiava ninguém, não era desagradável para ninguém; era uma pessoa paciente, sã por dentro, que gostava de viver em paz e em boa convivência com os outros.

Esta enorme paz que dele imanava, o estar intensa e profundamente bem com a vida, o seguir o caminho que para si parecia melhor, dava aos outros o prazer de com ele conviver. E porque ele era alegre, bom, rico por dentro, sem medos, é que ele era forte, imensamente forte.

O mundo à sua volta podia desabar, mas ele sempre conseguia à sua volta encontrar motivos para sorrir!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Uma rainha em peregrinação

JMJ, começa agora!!!

A imaginação cristã para elevar o real