A hora legal e o Senhor Tempo
Há um senhor que eu encontro no Chiado que se veste de fato e gabardine e que não gosta de grandes conversas. Passo por ele todos os dias, cumprimento-o, ele levanta o chapéu em gesto decidido, olha em frente e segue. Já tentei entabular conversa, perguntar o seu nome, perguntar o que faz, mas ele nunca me deu a oportunidade de parar um segundo. No outro dia encontrei-o junto às bancas de alfarrábios, ali na rua Achieta, era um Sábado, demorava-se remexendo em gravuras, mas entretanto, quando dele me aproximava, deram as badaladas da torre dos Mártires - e ele, em passo apressado, seguiu o seu caminho sem me ver. No dia seguinte, quando mudou a hora, no Domingo, encontrei-o impecavelmente vestido, na Brasileira, tomando um café ao balcão. Ouvi-o dizer que o relógio estava atrasado, que o deveriam acertar, que grande perigo adviria se não mudassem as horas do relógio. Entre as igrejas do Chiado e a Baixa, oiço regularmente as badaladas das torres sineiras darem as horas e não raro vejo ...