Será conservador ou conversador?!
Sentados os dois para discutir sobre a orientação do novo livro, Zé diz-lhe: "tu és conservador e as ideias e livros dos conservadores infelizmente pouco vendem".
Estamos habituados a que a esquerda acuse a direita de ser estúpida. Como se fosse a direita coincidisse com o estado de privilégio do nascimento - e a esquerda tivesse o privilégio de dizer o que deve morrer e ser enterrado, por disposição natural.
Há direita estúpida e há muita esquerda estúpida, facciosa, preconceituosa. O império da estupidez estende-se por territórios extensos e não encontra fronteiras.
É pena, porque a experiência humana não é para ninguém um caminho rectilíneo, também há muitos caminhos difíceis. Há uma ontologia da vida que é do Ser Humano - a comunicação mais do que servir para ser distribuída à direita ou à esquerda, destina-se à partilha com outros seres humanos e à necessidade de nos abrirmos a alguém semelhante. Quando somos capazes de despir-nos de todos os rótulos e adentrar-nos, percebemos que é impossível ficarmos indiferentes à beleza, à simpatia com o outro, a gestos de reconhecimento duma identidade comum.
Pode ser conservador na forma como se veste, como tenta ser educado, amável. Mas gostava de olhar para o mundo como um espaço em que vivemos e aprendemos todos, uns com os outros, a estar e ser de forma aberta e não fechada. Em que se é honesto e se dialoga.
O Zé falou-lhe de Jean d'Ormenson, um francês que tinha um sorriso irradiante e que escrevia muito bem. Em Ormenson memória do seu mundo (cada um tem o seu mundo), dava sentindo a uma forma de viver que ele prezava porque o ancorava a um "pertencer". Todo o ser humano, nascido num palácio ou numa casa humilde, o que mais anseia é o calor de pertencer. Isto é humano, não é de direita ou esquerda.
Um belo nascer do sol ligava-o a algo transcendente. Sentia também que se dar generosamente o ligava ao outro. Acreditar em tudo isso tornava-o feliz. Acreditava mais no amor. Era uma proposição que o acalentava.
Preferia a paz do lar à guerra e aos gritos das ruas, talvez por feitio. Por isso seria mais conservador do que revolucionário. Simplesmente reduzir isso a ter-se espírito burguês é que não aceitava. Despediu-se do Zé e disse-lhe "tivemos uma boa conversa, obrigado". Depois pensou para os seus botões: "conversador serei de certeza".
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