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Beleza

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O que é a beleza? Duvido que alguém não a reconheça quando a vê, ela é completamente evidente. Um exemplo: uma mulher bonita, ninguém fica indiferente. A beleza toca-nos. Uma bela paisagem, alguém duvida que ela o seja? Mas será que ela é solene? Solene, no sentido em que ela é formal? Poderemos nós, hoje, ter o culto apenas do banal? Do que é normal? Mas eu creio que a beleza não é solene, ela pode ser solene, Versailles é solene, mas uma casa de pedra numa pequena vila de França, um cottage numa quinta inglesa, um ribeirinho a correr com água fresca, são imagens de beleza que nos dão paz, e não são solenes. Uma paisagem pode ser solene: a descida para a Fajã do Santo Cristo nos Açores é uma imagem solene. É duma solenidade quase religiosa. Divina. Mas a fealdade também pode ser solene. Vejamos a opolência de um Ceausescu em Bucareste no seu horrível palácio; a solenidade da Coreia do Sul.  Não, a beleza não é solene.  A beleza só nos faz acordar e por veze...

Escultura

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Do que mais gostei quando visitei Roma ou Paris foi de ver escultura: na Villa Borghese em Roma uma pequena colecção de Bernini transporta-nos para outro mundo; em Paris, no Museu Rodin, ali bem perto de St. Germain, entramos num universo táctil em que o corpo humano transparece na sua mais expressiva das maneiras. Bernini é sublime, um génio que parece dar vida ao mármore branco. Dos aspectos de que mais gosto em Rodin é das mãos, da beleza do conjunto que as mãos representam: a mão é sempre mais que a soma dos dedos. Rodin dizia que a forma vem antes da idéia. A plasticidade dos materiais, o moldar a matéria, a luz e as sombras: a obra que se faz. A felicidade que deve ser esta vida de criação, dominando a técnica e fazendo descobrir o que as formas vão mostrando. O processo criativo do desbravar, do rearranjar à medida que o olhar vai pousando na peça que vai sendo sujeita ao escopo e ao martelo. O corpo humano é uma peça de arte, velho ou novo, nele está um objecto c...

Oportunidades

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Creio que uma das razões porque Robert Kennedy afirmou que se dedicava à causa pública era porque dizia que tinha sido muito abençoado na vida e que tinha tido oportunidades que faziam dele um privilegiado. Recentemente, enquanto os vários canais de televisão faziam um apanhado dos melhores e mais marcantes momentos do ano, dei por mim a ver a muito aguerrida e muito pouco feminina Serena Williams, a já há vários anos n.º 1 Mundial de Ténis.  Lembrei-me dos meus tempos de voluntariado com jovens em Sintra, em que além doutros tínhamos uma família de vários irmãos, em que preponderavam 2 irmãs bem activas e enérgicas. Eu baptizei-as de "irmãs Williams".  O fenómeno do sucesso de Venus e Serena deve-se talvez a um pai fora-de-série, que dum bairro pobre lutou para que as suas filhas fossem "alguém na vida". E de facto conseguiu. A experiência do Kápati (Cá-Para-Ti), o tal voluntariado em que estive durante muitos anos envolvido foi uma experiência humana ex...

A Capelinha

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O primeiro encontro "a sério" com a "Senhora Marquesa" foi há já muitos anos, quando o meu primo Nuno e eu, rapazes de calções e aventureiros campesinos, nos encontrámos à saída da Capelinha da Piedade e recebemos um convite inesperado. Havia o hábito, já do meu avô Augusto, de lá ir aos Domingos à missa do meio-dia; o meu pai brincava sobre o Frei Francisco (que mais tarde vim a saber ser um franciscano de grande prestígio nos meios da história, um estudioso, e que dava pelo nome completo de Francisco Leite de Faria) que - por tão velhinho e por ter uma voz tão arrastada, dizia sair da gaveta sempre que rezava missa. Era a chamada "missa da gaveta", com o "Pe. da gaveta"! Ora, estava eu a dizer, ao início, que certo dia, penso que depois de irmos cumprimentar a Senhora Marquesa, que ela nos diz para irmos a casa dela que tinha uma coisa para nós. Os dois, contentes, em pouco tempo batemos à sua porta, na Quinta da Piedade. O Milro - o chauffe...

Mário Cordeiro "Ele sabia e sonhava...", in Jornal i, 24 de Novembro de 2015

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Entrou. Entrámos. Antigo 3.o ano, actual 7.o. Aula de Físico-Química no Liceu Pedro Nunes. Num anfiteatro, lugar ainda pouco conhecido por estudantes da nossa idade, mais habituados a “salas de aula”. Sentou-se. Sentámo-nos. Lá em baixo, com uma grande mesa, repleta de líquidos e de provetas, buretas, vasos e balões, o mestre começou a sua sessão de magia. Em silêncio, porque o silêncio é cúmplice dos grandes momentos. O mestre agarrou num balão com um líquido transparente e juntou outro transparente, produzindo uma mistura encarnada. Perante o pasmo geral, também ele silencioso porque, creio, de boquiabertos que estávamos nem um som poderia sair, juntou mais uma substância. O líquido entrou em efervescência e ficou azulado. Vertido para a proveta, que conteria algum “pó secreto”, ficou verde. Os “ohs!” não soaram porque o fascínio toldou qualquer reacção. O mestre continuou, fazendo truques sobre truques, misturando pós e líquidos de frascos e provetas diferentes, transformando...

Para a frente!

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No caminho que, se quer interessante, cheio de desafios e encontros, cheio de histórias para contar, é importante ter um passo seguro. Confiante. Sempre olhando para à frente, à procura de concretizar o próximo desafio.  É comum, na vida, colocar-mo-nos  questões. As mais perigosas são sempre, "e Se"?! "E, se isto tivesse sido assim?", "e se,..." S. Paulo tem uma expressão muito bonita que é: "combati o bom combate, guardei a fé".  Combater o bom combate é viver com garra, com entrega, acreditando nos nossos valores e tudo fazer para os pôr em prática. Combater o bom combate é ser como um atleta que "fuça" para sempre fazer melhor, que treina para ter os melhores resultados. É acordar cedo, é fazer todo o "trabalho invisível" de preparação que todo o atleta de alta competição se preocupa por fazer, Combater o bom combate é andar de olhos bem abertos, é ser empenhado, é ser atento, é ser comprometido, é não ser i...

Transgressores

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Uma cerimónia, tudo gente fina e bem arranjada. Tudo alinhado e bem comportado. Uma criança, ainda não perfeitamente acomodada à compostura desata num choro e não há nada que a faça parar. Quanto mais lhe "pedem" para parar, mais ela prime as suas cordas vocais. Então, num gesto decidido, pego-a ao colo e afasto-me. "Já viu que está um lindo dia, Vicente, apesar de chover?! Vamos os dois ver a chuva cair ali junto do caminho?!"  Debaixo do meu chapéu de chuva, eu e o Vicente observamos a força da água que, velozmente, corre pelas extremidades do caminho formando um ribeirinho. A sua voz embargada ainda pergunta: "esta água.. ela pode-se beber?" "Claro", digo eu "Vamos beber?!" E então os dois nos inclinamos e ele imitando-me faz uma concha com a sua mão e dá um trago naquela água fresca.  Chegam a nós os adultos, uns minutos depois, nós divertidos com o espectáculo da chuva. Uma conversa séria prende-os: "estive a fala...