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Ser mulher hoje

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Alexandr Solzhenitsyn disse que a sociedade ocidental carece de coragem.  Vivemos tempos únicos. O capitalismo chegou a todo o lado, venceu o comunismo que tanta destruição e sofrimento trouxe ao mundo. O grande desafio das nossas sociedades é construir um mundo de paz, de cooperação, de entendimento. No entanto, vivemos com muitas crises e o mundo é feito ainda de muita dor. Provavelmente o mundo e as nossas sociedades sempre serão feitos de dor. A condição humana é viver na imperfeição, na incompletude. O próprio diálogo humano é difícil, tolhido por muitos obstáculos, por muita desconfiança. Damos graças a Deus por viver no Mundo Ocidental, por partilharmos valores de liberdade, de livre iniciativa. É isso que nos torna uns privilegiados: saber que podemos escolher como pretendemos viver, como pretendemos orientar a nossa vida. A União Europeia, com todos os seus defeitos, com a lentidão das super-estruturas, é, apesar de tudo, um compromisso de cooperação, onde pelo...

Taizé

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La paix de Dieu. Si on peut faire du monde un lieu de la comunion - c'est la parole mais aussi la realité vecú. En Taizé, le silence, la fraternité c'est possible. A fragilidade. A fragilidade do verdadeiro, da verdade. Que não se protege e que levou até à morte do seu fundador. O irmão Roger sonhou uma comunidade de amor, onde se seja irmão, filho de Deus. Esta é uma comunidade de amor. Uma comunidade onde Deus está presente, da bondade do coração.

Sicília

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Perto de minha casa, no Poço dos Negros, sinto-me em Palermo, Sicília. Os prédios apalaçados em ruína, a sujidade e o calor que liberta os odores, a roupa pendurada nas janelas. No ano passado, o meu Verão, passei-o na Sicília.   Não sei porquê, mas há um em mim que gosta disto, da sujidade e da "ordure". Há um em mim que gosta de andar assim, de calções e t-shirt, de mochila às costas.  Adoro cidades, adoro o movimento que as cidades têm. Da mole de gente que se "passeia" pela cidade.  Se gosto de Estocolmo, também gosto imenso da Baía. Se gosto imenso de trabalhar, também gosto imenso da moleza duma "tarde em Itapuã".  Assim, ontem, enquanto bebia uma caneca de cerveja e um pita shoarma no Poço dos Negros, a minha mente voava para Palermo, para aquela rua suja, rodeada de lindos mas decrépitos palácios e que é a grande artéria dessa cidade, que passa pela catedral. Pensava em Lampedusa, recordava-me de Nicoletta Polo, casada com Giachi...

Democracia directa

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No outro dia tive uma discussão com um amigo meu. Ele dizia que odiava o Costa, que ele era um sem carácter. É muito difícil discutir com alguém que apenas se baseia em ódios/amores pessoais, pois não há argumentação possível. O que eu lhe dizia é que sob o plano jurídico e até no jogo democrático-representativo que é o que temos hoje em dia nas nossas sociedades, é perfeitamente possível um governo cair na assembleia e foi o que aconteceu. Ele dizia que o que ele fez foi trair a confiança dos portugueses, que devia então ter dito que iria formar uma coligação, coisa que ele nunca disse que iria fazer. Eu não sei se ele deveria ter dito, o que me parece é que ele não sabia que iria perder as eleições - essa é que é a verdade. E depois tudo são conversas.  Lisboa está debaixo de grandes obras públicas. Praças, avenidas. Não tenho dúvida que tudo ficará melhor. Muito mais verde. E certamente melhor. É assim que deve ser a tendência, cidades mais agradáveis para se viver. Mas mui...

Alice and Helmut

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Conheceu Helmut na Rockefeller Chapel, no final de um concerto que festejava os 10 anos sobre o fim da Guerra. Tinha ele então 25 anos, acabara os seus estudos de Engenharia Mecânica na Universidade de Chicago e começara há já 2 anos a trabalhar na General Motors. À saída do concerto, mesmo à porta da capela um bem vestido jovem, alto e louro, estendera-lhe uma linda flor, uma rosa, e juntara ao gesto a seguinte frase: “era de longe a mais bonita a tocar na orquestra… não posso deixar de dizer-lhe que depois dos escombros e da destruição, ainda nascem lindas rosas como você”. Fora esse o princípio. Um ano depois casaram. Helmut trabalhava muito, a GM estava florescente; cada novo ano uma série de novas cidades se erguia do 0, toda uma nova rede de ligações por auto-estrada. Cada família adquiria um automóvel; em cada casa um frigorífico, um televisor, uma garagem e um jardim (coisa que para Krutchev custara ouvir de um ufano Nixon). Truman era então Presidente. Pouco tem...

Back to basics

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Ser criança, olhar para tudo com olhar de entusiasmo. E se todos fossemos criança, como seria o mundo? Todos os maus já foram crianças. Já andaram de fraldas, já gatinharam, já deram os primeiros passos.  Todos na rua com quem nos cruzamos já foram crianças: o taxista que nos leva até a uma reunião algures; a pessoa que nos atende ao balcão dum café antes de entrarmos na dita reunião; as pessoas na reunião. Qual seria a primeira coisa que faríamos se fossemos crianças? Festejaríamos o facto de descobrirmos alguma coisa. Que o táxi Mercedes tem um braço para apoiar e que desce, por exemplo. Que o taxista tem um bigode "muita giro". Que a reunião onde temos as pessoas sentadas tem umas cadeira muito antigas e muito chiques e que estão todos muito bem sentados e de gravata.  Quando víssemos alguém a gritar com outra pessoa qualquer era, porque lhe tinham tirado alguma coisa dela sem lhe perguntarem primeiro. Ou porque em casa alguém a tinha "chateado", e ela est...

Mergulho no mar

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A aproximação não é fácil porque o mar não é muito convidativo: a beira-mar inclinada a obrigar o bíceps da coxa a estar em tensão, as ondas desobedientes a uma ordem certa e, sobretudo, o primeiro impacto dos pés com a água desencorajante, por razões eminentemente térmicas.   O corpo entrando no mar: os músculos, alguns deles retecidos, outros como os da barriga encolhidos, o esqueleto em sentido. Duas estratégias diferentes: permanecer esperando até que, já banhado pela espuma e salpicado pelas ondas, em gestos tímidos se avança passo a passo; acometer-se num mergulho - cuja decisão ainda assim é por uma ou duas vezes adiada - à frieza das águas. Eu acho que nunca se entra na água da Praia Grande sem certa dose de ímpeto afirmativo; sou pois absolutamente defensor da segunda estratégia definida. Poderia haver aqui um quê de exibicionismo, mas manda sobretudo a fidelidade a uma identidade pessoal filiada a uma pertença colectiva. Mas, para mim, é antes de mais e acima de tu...