A vida como um barco



“Frente à costa encontra-se fundeado um veleiro de 4 mastros que converte o mar num anacronismo e também num convite. Navegar! Que enorme metáfora da vida inteligente! Este barco que se balança na reverberação do sol é uma criação da inteligência humana para aproveitar em seu favor as forças que estão contra si, e assim apoderar-se do mar. Um bom timoneiro sabe navegar contra o vento, servindo-se do empurrão do vento que previamente confundiu e capturou entre as velas. O vento extraviado sai por onde pode, que é por onde o navegador quer. Esse hábil navegar, dando bordos, cingindo-se a uma amurada e logo a outra, num ziguezague que engana as ondas, permite-lhe avançar para barlavento, oferecendo a cara ao ar encrespado, que é o que, antes ou depois, temos todos de fazer. Navegar é uma vitória da vontade sobre o determinismo”.

“Criamos à força de esforços. Mantemos suspenso o orbe dos valores e da dignidade humana, prestes a desabar se claudicamos. Criar é sacudir a inércia, manter a pulso a liberdade, nadar contra a corrente, cuidar do estilo, dizer uma palavra amável, defender um direito, inventar uma graça, dar um presente, rir-se de si próprio, tomar-se muito a sério nas coisas sérias”.

In, Ética para Náufragos – José António Marina

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