Outono - Alentejo, memórias de outrora e o trabalho

A frescura que já se sente pronuncia um tempo de que gosto muito. Não sei se é a frescura natural de Sintra, se o pré-anúncio dessa estação que marca o regresso. Susana Tamaro - que juntamente com Mafalda Veiga e Jorge Palma são os meus mestres da sensibilidade diz o seguinte: 

"... a partir de meados de Agosto começo a sentir uma sede absoluta de silêncio. Só desejo a penumbra, o ar fresco, os dias silenciosos, o telefone que não toca, as longas horas de estudo, os passeios no bosque com o cão. No início de Setembro, costumo ir passar uns dias à montanha, e, quando regresso, começo a preparar a casa para o Inverno. Mudo de estação, deito fora os jornais velhos, arrumo as gavetas."

O Outono ligo-o ao Alentejo, para onde parti muitas vezes, no meu Polo cinzento com tecto de abrir, batendo no céu o faiscar das estrelas, enquanto um cd tocava Mafalda Veiga:

"Esta é só uma noite para partilhar
qualquer coisa que ainda podemos guardar cá dentro
um lugar a salvo
Para onde correr
Quando nada bate certo
E se fica a céu aberto
Sem saber o que fazer

Esta é uma noite p'ra comemorar
Qualquer coisa que ainda podemos salvar do tempo
um lugar para nós
onde demorar
Quando nada faz sentido
E se fica mais perdido
e se anseia pelo abraço de um amigo

Esta é só uma noite para me vingar
do que a vida foi fazendo sem nos avisar
foi-se acumulando em fotografias
em distâncias e saudades
Numa dor que nunca acaba
e faz transbordar os dias

Esta é uma noite para me lembrar
Que há qualquer coisa infinita como um firmamento
Um sorriso, um abraço
Que transcende o tempo
e ter medo como dantes
de acordar a meio da noite
a precisar de um regaço..."

É tão bonito o Alentejo nessa altura do ano. A luz é forte, mas as tardes já são frescas. Adoro almoçar na nossa varanda. Por essa altura faço anos e já fiz almoços lá. Nos tempos de estudante passava grandes temporadas lá em casa. Montava a cavalo, passeava por Évora.

O Outono é tempo de preparação como Susana Tamaro refere e, a mim, recorda-me agora os tempos idos em que com a minha mãe fazia uma deslocação às compras para comprar o material para a escola. A farda muitas vezes nova, no reinício das aulas, o receber os livros e plastificá-lo. Um entusiasmo novo que era o acontecimento de começar um ano em branco.

Agora trabalho, mas estes "rituais de passagem", tão importantes para nos habituarmos às coisas, não se devem perder.
Em Setembro volto ao trabalho, mas coisas novas terei que marcarão o ritmo. Logo pelo início, terei um curso, formação. E apetece-me voltar a ouvir, voltar a estudar.
Todos os anos, depois do Verão, há resoluções para um novo ano: vou fazer muito desporto, vou viver para tal sítio, vou apostar em aprender inglês, alemão... whatever. E é tão bom isso de ter planos, de apostar.
Terei mais 4 dias de férias, e estes vão "saber a pato" (depois de ter no outro dia tentado fazer arroz de pato, e de ter saído uma verdadeira "bodega", completamente intragável. Ai meu Deus, que má-sorte não teres nascido para a cozinha!!!).
Haverá depois um período de trabalho, de rotina de que também gosto. De trabalhinho pela manhã - este ano, antes das férias trabalhava ouvindo Vivaldi e vou escolher em breve algum novo disco para trabalhar; de regresso pela tardinha a Sintra.
Este ano será um ano de projectos e há um que especialmente "me encanta" como dizem os nossos amigos "espanoles" e que me está a dar "grandes ganas" e por isso, para conseguir fazer tudo, terei que organizar-me!

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