Sintonia e desintonia

Sabe bem quando estamos sintonizados com o espaço à nossa volta. Há dois fins-de-semana estive sintonizado com uma voz magnífica e mítica: a voz da BBC Vida Selvagem. Sentado à mesa do Restaurante do Hotel Josefa d'Óbidos com Eduardo Rêgo (a voz da BBC Vida Selvagem), tive ainda por convivas duma excelente refeição pelo manjar e pela conversa um empreendedor notável chamado Marco Galinha (empresário e vice-presidente da ANJE), Miguel Silvestre do Parque Tecnológico de Óbidos, Paula Carvalho, psiquiatra e o dono do hotel e Presidente da Associação Obidos.com, Carlos Martinho. Um grupo diversificado, que não se conhecia, e que conseguiu em uma hora criar uma verdadeira sintonia/sinfonia entre si.
Quando as pessoas são assim, disponíveis para se escutar entre si e pôr-se a con-versar, a pôr a versar as palavras, é magnífico. 
É interessante porque nem sempre se cria assim ambiente.  Não sei se é por ser Óbidos e haver uma comunidade interessada em debater com seriedade.
No outro dia estive entre activistas, em Almada. A interveniente lançou um movimento em S. Paulo no Brasil referente a uma Praça, a Praça da Batata. Aí, contra o Município, passaram a gerir a praça à sua maneira. Um projecto interessante. Ao princípio senti empatia com as pessoas, mas no fim, creio que ela se desvaneceu. Não sei se era pelo background diferente das pessoas, mas depois de ter dado a minha opinião e de dizer que era importante que a política soubesse institucionalizar a indignação, senti as pessoas afastarem-se de mim. Eu acredito na política, mas não acredito na revolução. Ou pelo menos acredito que a revolução é sempre o último reduto. À despedida senti desintonia - senti que não havia grande forma de podermos dar as mãos. E eles também não foram muito simpáticos ao final. Seria desconfiança? Deles? Minha?! Por um lado achei interessante o projecto deles, mas não encontrei neles a disposição de mudarem as coisas, mas apenas o de se manifestarem contra o sistema. O sistema capitalista, que eles apelidam de "direita". Também não achei nada de extraordinário e socialmente diferente para melhor o que traziam. Tinham ideias para Lisboa, de mobiliário urbano - alguns que envolviam intervenção urbana um pouco de protesto, mas de impacto social diminuto.
Trazemos do nosso background social muitos preconceitos e temos medo de atravessar fronteiras. O quentinho dos clubes conforta-nos. Já dizia Ortega y Gasset: "ser de esquerda é, como ser de direita, uma infinidade de maneiras que o homem pode escolher de ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas de paralisia moral". O clubismo da direita e o clubismo da esquerda têm naturalmente os seus lugares-comuns e as suas agendas. Agora a esquerda fala do "direito à cidade": mas que coisa é essa?! 
Era bom que soubéssemos dizer como dizia Santo Agostinho, que para conhecer uma pessoa era melhor perguntar-lhe de que é que ela gosta (mais do que lhe perguntar o que é que ela pensa). E assim criarmos pontes com os outros e podermos tocar um jazz polifónico em vez de nos guerrearmos com partituras que outros urdiram por nós! Ou querermos impôr a nossa sinfonia aos outros por decreto não sufragado!



  

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