As Madalenas de Proust

De cheiros está a minha memória cheia:
Do cheiro a madeira do elevador de casa da minha avó
Da palha no Verão no Tojal; da relva acabada de cortar
Do cheiro do primo Martim; da água-de-colónia do avô; ou duma bola de ténis
Do metro de Paris e do manjerico das festas populares
De sabores também: do sabor do doce de castanha com nozes
Do sabor do chocolate, do sabor a mar das amêijoas
Do sabor de um sumo de tomate, que deixa no fim um mau trago
Do sabor do foie groie, numa torrada bem feita
Do sabor duma cerveja, acompanhada de marisco
De sensações do tacto também: da sensação duma cama acabada de fazer
Da sensação duma tolha turca, depois de um bom duche
Da sensação dum abraço, ou de roupa confortável
Da sensação do encontrão numa partida de futebol
Da sensação de um mergulho no mar frio
De sons também: do som das ondas do mar
Do som da água a correr na banheira, ou numa fonte
Do som dos cânticos de Natal
Do som de alguém a chamar por mim
Do som de crianças a brincar
De imagens também: da imagem duma mãe com os seus filhos
Da imagem dum artificie a trabalhar sobre a sua peça
Da imagem duma árvore grande e bonita
Da imagem duma seara
Da imagem das fotografias da Terra, feitas a partir do espaço.

                                            "Tennis Ball", de Kristine Kainer

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