Pelo Minho

Este ano as minhas férias do Verão levaram-me  ao Minho, mais concretamente a Ponte de Lima, aquela que dizem ser a vila mais antiga de Portugal e, certamente, também uma das mais bonitas. Foi uma semana para gozar de ares mais frescos e atlânticos, contrastantes com o interior do Alentejo onde as temperaturas passaram os 40 graus e onde estivera nas semanas anteriores.

A vila está virada para o rio Lima, largo curso que forma um plano de água extenso, de águas tranquilas, tendo na sua margem direita jardins e caminhos pedonais arranjados, o que confere uma qualidade de espaço urbano notável. Foi local de passeios e corridas diários, enquanto ao longo do rio toda uma actividade desportiva e lúdica se desenvolve, promovida pelo Clube Náutico de Ponte de Lima. Dezenas de crianças e jovens em grupos, enfiados em kayaks singulares ou colectivos remam rio acima/rio abaixo, animando o ar com a sua alegria e o seu dinamismo, o que dá uma nota de vila vibrante, que consegue envolver os jovens em ocupações saudáveis. Na semana em que Fernando Pimenta, um ilustre limiano, do mesmo Clube Náutico de Ponte de Lima, voltou a sagrar-se campeão do mundo de k1-1.000 m, não nos custa ver em alguns daqueles jovens um brilho no olhar, de quem procura emular o seu herói.

Tempo de leituras também, levei comigo "Rua de Paris em dia de chuva", de Isabel Rio Novo (de quem lera o excelente livro "O Poço e a Estrada", biografia de Agustina Bessa Luís) e que desta vez ensaiara narrar (com menos sucesso pareceu-me) a vida de Gustave Caillebotte, que pintou múltiplas cenas no rio Yerres e autor do quadro que escolhi para ilustrar este texto.

A nossa vida durante estes dias, passou-se porém mais na margem direita do Lima, do outro lado da ponte romana, onde a vila se desenvolve em múltiplas feiras e onde a casa onde fiquei se situa. Entre almoços e visitas, deu para ter um cheirinho deste Minho, nomeadamente das suas casas senhoriais, que as há em número expressivo e todas com as suas especificidades. Visitámos a Casa dos Condes de Aurora, um enorme solar na própria vila de Ponte de Lima, um tesouro que guarda memórias de tempos idos, com mobília exótica de Goa e outras paragens pelo Oriente e um jardim ensaibrado recheado de flores e árvores de outras paragens, entre as quais uma sebe-alameda de camélias, recortadas com janelas para espreitar. Fomos ainda ao Paço de Calheiros que, majestoso, domina todo o vale do Lima, na mesma família há centenas de anos e que se virou para o turismo de habitação por acção do seu proprietário, meritório impulsionador do sector em Portugal. Por perto de Calheiros, passando pelo Cardido que já conheço, chega-se a Refóios do Lima, onde fomos convidados a visitar a Torre de Refóios, também dedicada ao turismo e projecto dum muito talentoso e empreendedor José Vaz de Almada.

Nestas nossas voltas acabámos por não entrar e apenas passar ao largo de Viana de Castelo, a capital de distrito, uma cidade que me agrada, mas que várias opiniões que fui reunindo foram mais ou menos consentâneas em me dizer que os seus melhores tempos já passaram e que Braga tem muito mais vida e interesse actualmente. A propósito de várias idas a Soutelo ao longo dos anos, à Casa da Torre, fui vindo a conhecer também esta cidade de Braga, onde como nota introdutória, se encontram bons restaurantes e a bons preços. Cidade universitária (a Universidade do Minho é das melhores do país), tem muita juventude. Chega-se bem a Braga do Porto ou Lisboa: basta apanhar o combóio. Vou habitualmente de Alfa Pendular, a viagem é agradável. Este é certamente um factor que aproxima Braga do desenvolvimento. Quanto a Viana do Castelo, seria necessário estudar melhor, mas provavelmente não conseguiu reter actividade económica, como a do seu porto e dos seus estaleiros, passando a tornar-se essencialmente uma cidade de serviços. Uns dias antes de chegar ao Minho, passou-se as Festas da Senhoria da Agonia, onde há uns anos assisti ao desfile das centenas de raparigas com os seus colares de ouro, algo que impressiona e que mostra o quanto Viana já foi rica. 

O Minho é alegre, fecundo em vida, com grande identidade.


 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

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