"Deixa de sofrer"
A história dum rapazinho irlandês inteligentíssimo (um tanto ou quanto asperger porém), cuja mãe atleta morrera a nadar numa piscina e que ele quer voltar a trazer à vida. Um casal desencantado, ela professora, uma mulher sensível. E como um projecto comunitário de construir um barco os põe no mesmo caminho, numa oficina de carpintaria na escola.
A Irlanda, país que conheci em dois Verões da minha juventude e onde fiz canoagem. O livro trouxe-me lembranças desse tempo em que nos aventurámos em "ponds" e "rivers", molhando-nos pelo menos até à altura da cintura, de sapatos de ténis enfiados em canoas.
O livro tece um enredo em que se sente o pulsar das relações humanas, na sua complexidade, mas onde é possível ainda acreditar que pode haver proximidade e intimidade. Sempre presente está o que são as nossas ânsias e o sofrimento que cada um guarda. Quase se poderia dizer que as personagens se conhecem pelo seu sofrimento.
Quando constroem o barco, de forma comunitária, e Jamie desliza sobre as águas, há um sentimento de liberdade. E é bonito.
Voltar a ler livros assim é uma maravilha.
A grande literatura realmente dá-nos tanto.
Ontem estive em Coimbra. Fui lá por causa do conto da Rainha Santa, que pretendo lançar nessa cidade. O conto fala de sofrimento (chego a pensar que é um pouco triste), mas também fala de redenção. Quando me vinha embora, sentado no táxi para nos levar a Coimbra-B de volta a Lisboa, na torre norte do Convento de Santa Clara-a-Nova uma frase que ambos reparamos: "Deixa de sofrer". Em grandes letras. É efectivamente a mensagem do meu conto. Há frases lapidares que resumem tudo. Neste caso, essa frase não apenas resume o meu conto como o livro "Como se construir um barco" que ontem à noite acabei de ler...
Hoje de manhã peguei em dois livros de José de Agualusa e comecei a ler um de contos. Tive uma certa pena que ele abarque tanto a guerra. Mas um deles achei extraordinário.
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