Promessas goradas
Um pobre mecânico que vive num abarracado no Cercal do Alentejo, que nem água terá, cruza-se nas redes sociais com uma linda jovem americana, que pouco tempo depois promete vir ter com ele. O homem, que vive só e é triste, envia-lhe dinheiro, todo o pouco que tem para a ajudar nos custos da viagem..
Uma senhora, também do Cercal do Alentejo, assomada por dúvidas quanto ao que fazer na sua vida financeira pois a reforma é pouca e já não conseguem por razões de saúde trabalhar a terra, deposita uma pergunta nos comentário abertos de uma astróloga que costuma falar na televisão. A partir daí um diálogo se inicia, que se segue para uma série de rituais de magia, com indicações precisas e montantes a pagamento prescritos.
O mecânico no dia em que se senta no café da aldeia antes de ir buscar a sua amada ao aeroporto de Lisboa, com taxi à porta do café, mostra a fotografia da beldade: a rapariga não é mais do que um rosto produzido em IA - quem o diz é uma jovem, que bem sabe o que diz. O homem tem um desgosto, sente-se humilhado.
A senhora - que é até uma mulher inteligente, receia mesmo que as coisas que a astróloga lhe diz se possam realizar e submete-se a uma série de práticas, inclusivamente enviando vídeos seus nessas práticas - e já sabemos como é que alguém os pode utilizar, se for mal intencionado. E neste caso era, naturalmente como se está já a ver... Alguém utilizara o nome da astróloga e replicar a sua conta.
O aproveitamemto maldoso que certas pessoas fazem da ignorância e inocência de terceiros, é algo que hoje, com as redes sociais e a opacidade que existe, permite extorquir dinheiro e quase sempre não ser apanhado. Trata-se de pequenas burlas, não ultrapassa os 1000 ou 2.000 euros, mas deixa um rasto de humilhação nas vítimas. E mostra também que neste mundo andamos a várias velocidades e que não é difícil de cair na esparrela: o sonho da felicidade dado por um belo rosto que em palavras ternas nos diz amar-nos; a sábia que nos livra dos males da nossa vida e nos oferece a paz dum futuro risonho. O povo diz que quando a esmola é grande é razão para desconfiar, mas há em nós algo que nos diz que gostamos de acreditar em milagres. Seria bom que, sobretudo para as pessoas de 3.ª idade fossem feitas acções de informação seja pelas autarquias locais, seja pelas forças policiais, para impedir que caíssem nestas esparrelas.
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