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Une voix, un destin

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Tenho lido e visto várias coisas sobre Carl Jung, um homem cuja vida e trabalho deram muitos e bons frutos. Trabalhou com Freud, mas dele veio a divergir, não concordando com o peso excessivo dado à infância. Nele, embora o subconsciente jogue um lugar muito relevante, o trabalho de interpretação do mundo interior  não tem apenas a ver com o passado, como também com os nossos desejos profundos. Ao contrário de Freud, não estamos irremediavelmente condicionados por uma realidade imposta, moldada pela relação na infância com os nossos progenitores. Ela é sem dúvida importante, mas em Jung há uma ampliação daquilo que somos e, aquilo que desejamos ser e como nos projectamos no futuro, são elementos que entram nesta equação.  O processo de "individuação" é colocar-nos a caminho, vivendo no quotidiano das nossas circunstâncias, dando lugar às nossas vozes interiores e seguindo as nossas inclinações, num processo de descoberta aberto e dinâmico. Precisamos de estar connosco próp...

O Eu interior

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Gostava de erradicar o egoísmo no mundo, a falta de amor, as visões tacanhas, os autoritarismos estúpidos. Somos tão marcados por isso, tão condicionados nas nossas disposições interiores. Nos últimos dias, voltei a ler de James Martin, sj, o livro "Torna-te aquilo que és". Fala nele de Thomas Merton e de Henri Nouwen, dois autores espirituais que procuraram descobrir-se a si próprios e tentar fundamentar uma vida de e em liberdade. A procura do eu interior em Thomas Merton é uma via espiritual que nos liberta dos condicionamentos exteriores, das imposições do parecer, por exemplo. Quem consegue chegar a esse eu interior e fazê-lo viver (um eu puro que espera o amor em Deus), torna-se impassível aos desmandos do mundo. Thomas Merton não facilita o caminho e não nos apresenta a sua espiritualidade como um pronto-a-comer, ou um pronto-a-vestir, um qualquer manual com instruções. Numa vida atribulada que foi a sua, viajada e com muitíssimas leituras, encontros e, de certeza, tam...

Em Bordéus, sem cotoveladas

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Qualquer visita a uma capital europeia é hoje um exercício difícil de pontaria, pois exige do viajante poderes divinatórios e precisão matemática para evitar multidões: - Qual a melhor hora para ir a tal sítio? - Que tal comprarmos com antecedência bilhetes para este ou aquele museu?! Recentemente fui a Madrid e só se vence a multidão da Gran Via a modos de cotovelada, tal qual jogo de rugby... É assim em Roma, em Amsterdão ou Londres... o melhor é optarmos por outras cidades que não capitais.  Vim a Bordéus e aqui vive-se uma Paris civilizada, sem multidões, com tempo para se estar à-vontade e poder-se assistir tranquilo ao jogo de rugby na televisão, com um bom entrecôte e vinho tinto (o que, em dia de anos, foi para mim alegria imensa, por ver Portugal a ganhar de forma extraordinária às Ilhas Fiji num jogo em Toulouse!) Não por acaso chamam-lhe (a Bordéus) a "Petite Paris". Aqui encontro os edifícios haussmanianos, as praças bonitas e cheias de luz, com es...

Humpty Dumpty

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Encontrei esta manhã o Alberto na rua Garrett. Disse-me que este era um tempo em que os astros que influenciavam a vida dos de "libra" estavam particularmente agitados e perguntou-me como é que eu estava.  O Alberto é um peruano, de Lima, um artista. É um homem com muita sabedoria. (Uma amiga minha, a Francisca, disse-me certo dia que imaginava para mim uma viagem a Machu Picchu, nos Andes peruanos. Perguntei-lhe porquê. Disse-me que era porque achava que eu era uma pessoa espiritual). O Alberto tem razão. Acho que os astros andam muito agitados. Disse-me ele que era preciso deixar a tormenta passar - que o equilíbrio era agora difícil. Concordei com ele, e ripostei:  - Pois é, temos que procurar um novo equilíbrio. Ele disse-me:  - É isso mesmo. Entretanto, que dia magnífico está hoje. Sinto-me privilegiado por viver aqui, junto ao Tejo. E esta luz de Lisboa, ó meu Deus... Quando saio de manhã e desço a rua da Horta Seca, tenho a Igreja da Encarnação ao fundo e lá ao alt...

A Nova, os novos... e a pedrada no charco da velha/nova Gulbenkian!

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Ontem à noite, no meio da agitação, que passou a regra ao nos movimentarmos no Chiado - acotovelando-nos a uma turba de gente de todo o mundo e onde escasseiam os de cá,  passou por mim um grupo de caloiros envergando t-shirts com a inscrição "Nova School of Law", designação que terá sido proibida pela Ministra, na sequência duma queixa por violação do artigo 10 n.º 1, do Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior. Segundo consta, esta norma prescreve que as instituições de ensino superior devem ter denominação própria e característica, em língua portuguesa, que as identifique, de forma inequívoca, sem prejuízo da utilização conjunta de versões de denominação em línguas estrangeiras.  Tal situação é sinal dos tempos confusos em que vivemos, que nos fazem questionar o que é do núcleo da identidade, tendo presente a já mais do que normal livre circulação de estudantes na licenciatura (fruto certamente do sucesso do Programa Erasmus), aliada à necessária atractividade d...

Pelo Minho

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Este ano as minhas férias do Verão levaram-me  ao Minho, mais concretamente a Ponte de Lima, aquela que dizem ser a vila mais antiga de Portugal e, certamente, também uma das mais bonitas. Foi uma semana para gozar de ares mais frescos e atlânticos, contrastantes com o interior do Alentejo onde as temperaturas passaram os 40 graus e onde estivera nas semanas anteriores. A vila está virada para o rio Lima, largo curso que forma um plano de água extenso, de águas tranquilas, tendo na sua margem direita jardins e caminhos pedonais arranjados, o que confere uma qualidade de espaço urbano notável. Foi local de passeios e corridas diários, enquanto ao longo do rio toda uma actividade desportiva e lúdica se desenvolve, promovida pelo Clube Náutico de Ponte de Lima. Dezenas de crianças e jovens em grupos, enfiados em kayaks singulares ou colectivos remam rio acima/rio abaixo, animando o ar com a sua alegria e o seu dinamismo, o que dá uma nota de vila vibrante, que consegue envolver os jov...