Até onde ir? O ambiente que o Homem cria

Recentemente estive em Palmela, junto à Arrábida. Percorri o caminho dos moinhos na Serra do Louro, por onde se consegue, do alto, espreitar o estuário do Sado.
Tem-se ouvido na comunicação social discutir sobre as obras de dragagem que se pretende fazer para permitir que navios de maior calado entrem no Porto de Setúbal. É por aí que são escoados os automóveis da Auto-Europa, calculo que também os produtos da grande unidade da Navigator.
Quando se passeia na Arrábida, a beleza é extraordinária. 

Ontem, tive a jantar em minha casa a voz da BBC Vida Selvagem, Eduardo Rêgo. Ele dizia que para curar problemas como a depressão - em vez dos ansiolíticos que se dão - um passeio no campo é um balsâmo que os médicos  deviam receitar. Porque não?! Lembro-me também não há muito tempo ouvir o mesmo de Juhani Pallasmaa.

A natureza é muito importante e não podemos dar cabo dela.

Durante muitos milénios, o Homem foi trabalhando a natureza e adaptando-a às suas necessidades. O seu poder transformador era ainda limitado. A relação do Homem com a natureza, enquanto ele não a sub-jogou foi de grande respeito por ela: dela lhe retirava uma parte, agradecendo-lhe pela sua dádiva. Festejava-se a época das colheitas, celebrava-se socialmente. As vindimas na zona do Douro, por exemplo, continuam a reunir todas as classes sociais, num convívio alegre de trabalho e folia.

Olhando para a paisagem cultural do Alto Douro Vinhateiro, percebemos essa relação salutar que o Ser Humano pode ter com a natureza. Diz-nos a página da Comissão Nacional da Unesco: "A paisagem cultural do Alto Douro combina a natureza monumental do vale do rio Douro, feito de encostas íngremes e solos pobres e acidentados, com a acção ancestral e contínua do Homem, adaptando o espaço às necessidades agrícolas de tipo mediterrâneo que a região suporta. Esta relação íntima entre a actividade humana e a natureza permitiu criar um ecossistema de valor único, onde as características do terreno são aproveitadas de forma exemplar, com a modelação da paisagem em socalcos, preservando-a da erosão e permitindo o cultivo da vinha".


Por vezes só damos real importância às coisas depois de as perdermos.

Em muitas questões complexas como a de projectos com grande impacto ambiental, deve haver estudos onde se ponderem os custos/benefícios dos mesmos. Porque o ambiente é, ele próprio, um valor importantíssimo. 

Devemos pensar a médio e longo prazo, não simplesmente numa lógica a curto prazo. Na questão de Setúbal, que eixos estratégicos motivam que se possa introduzir um impacto que, dizem que se tem pronunciado sobre isso, é tão grande? Irá haver realmente um grande ganho com isso? Não existem alternativas? Poderá haver interesses menos claros por trás das decisões? Foi feito um debate público? A decisão está fundamentada?

É interessante ver que há pessoas que se têm chegado à frente como José Roquette do Grupo Pestana, que com grande coragem, tomou uma posição contra. Podia ficar calado, ficar no seu cantinho e gerir agendas e não levantar ondas. Há uma petição, lançada em Fevereiro deste ano: https://beachcam.meo.pt/newsroom/2019/02/pescadores-e-empresarios-juntam-se-contra-dragagens-na-arrabida/  

É importante pensarmos em casos como o da Noruega que, por exemplo, tomou a decisão de não explorar mais os recursos petrolíferos do Mar do Norte (veja-se https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/04/pelo-clima-jovens-da-noruega-querem-parar-petroleiras.shtml


  

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