Indagador de coisas

Na minha vida de "buscador" de coisas (também poderia dizer de "indagador"), gosto de pôr as pernas a andar. 

Esta qualidade de ir ao "local do crime", onde as coisas se passaram/ou passam é importante para perceber o contexto. Sempre que há humanos envolvidos, o contexto releva. A mim, permite-me ser inserido nas cores, texturas, cheiros e luzes/sombras da história, daquela história.

A diplomacia que é a ciência de ir ao encontro e perceber distâncias - e tentar aproximações, só se consegue praticar quando nos pomos a caminho. Não acredito numa diplomacia que não tenha essa componente de sair para ir perceber o que se passa. Não seria diplomacia, seria quanto muito "política"  (e aí nem sei bem, porque seria também "má política").

Nos meus casos, enquanto advogado, ir ao "local do crime" (sendo certo que a maior parte das vezes, diria quase a totalidade das vezes, não é de "crimes" que se trata...) é um passo habitualmente necessário. Além de me permitir medir o pulso do caso, tem a virtude de me antecipar perguntas (não digo antecipar respostas, porque as boas perguntas são sempre mais importantes). Com efeito, quando somos confrontados com a realidade, de forma directa, e não como uma tarefa a organizar na agenda que preparamos 10 ou 15 minutos antes duma reunião ou da escrita dum documento, somos obrigados a fazer o "trabalho invisível" bastante mais cedo. É, pois, sinal de extrema diligência colocar-nos a caminho, "ir lá ver". 

Naturalmente que há aqui algo de detectivesco nesta forma "peripatética" de se exercer. A inteligência (como diria Poirot "as celulazinhas cinzentas") trabalha bem quando está no terreno, quando essas células são agitadas e escutam as cambiantes de vozes das pessoas, os passos mais ou menos seguros de quem se aproxima, ou a cabecinha que espreita por entre as moitas e que não nos passa despercebida. Mas não são só as células cinzentas, todo o corpo é dotado de inteligência - e conceber apenas uma "inteligência cerebral" levava-nos a optar por uma vida mais sedentária, sentados na poltrona do nosso escritório de Baker Street. Ora, mesmo Sherlock Holmes não descobria os seus crimes apenas sentado na  poltrona e precisava de ir ao "local do crime". As intuições são o nosso corpo a pensar e ele trabalha mesmo a dormir. Para  assim acontecer - e nos darmos ao pensamento como uma experiência total, pôr as pernas a andar é alimentar o nosso corpo de realidade (virtude que apesar de tudo os livros e os papéis não gozam pois apenas a reproduzem). 

Por isso, mesmo que para resolver o "crime" não seja forçoso ir ao "local do crime", gosto sempre de me pôr a caminho do ambiente que rodeia o caso. Nem que seja para sentir, para "medir o pulso", como dizia e colocar-me as boas perguntas... 



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