De Gaulles

Ontem ao almoço com algumas pessoas comentava que tinha recentemente visto um documentário sobre Charles de Gaulle e que tinha uma grande admiração por aquele homem. Foi uma pessoa de apostas altas, alguém que parte sem praticamente apoio nenhum para Inglaterra para organizar a Resistência e que uns anos depois e tanta luta, marcha triunfante Campos Elísios abaixo. A sua vida foi um grande combate e nunca virou a cara à luta.

Por outro lado, foi um homem que conseguiu colocar França num crescimento económico assinalável e que pensou o país com uma grande ambição. 

Era um homem resoluto, que pensava pela sua cabeça. 

Em muito sentidos era um visionário, que tentou percebeu a França e a sua circunstância, construindo um conceito estratégico nacional. Contrário à presença do RU na CEE, porque achava que eles só se queriam aproveitar dela, vetou a entrada dos ingleses; tentou a reconciliação com a Alemanha e estreitou laços com o velho inimigo, inserido agora numa comunidade que  pretendia ser um virar da página a tanta guerra e destruição; é sua a ideia de criar uma França mais autónoma do ponto de vista energético (com a aposta no nuclear), assim como de criar uma indústria nacional pujante, nacionalizando a Renault nomeadamente (é mais do que evidente que não era um liberal); tentou diversificar a política externa (com a Rússia e outros países), tentando contrariar o domínio crescente dos EUA.

Ora, contava eu que ontem tinha assistido a uma entrevista do neto de de Gaulle, de seu primeiro nome Pierre. É uma entrevista em que o neto se diz herdeiro da visão política do seu avô e passa toda a entrevista a dizer que a guerra da Ucrânia é algo que serve sobremaneira os interesses da América, que Zelensky anda a fazer negociatas com o seu país e que o Ocidente se portou muito mal com Putin, mentindo-lhe deliberadamente nos Acordo de Minsk (que nunca quis cumprir). Confesso que dá um pouco que pensar e que é importante termos que filtrar bem a informação e não tentar ver tudo a preto e branco, meditando na questão dos equilíbrio frágeis e na possibilidade efectiva de uma Rússia humilhada, que o Ocidente desprezou. É sempre importante perceber as causas remotas dum problemas, os sentimentos que subjazem a determinada atitude.

Mas por outro lado, dizia eu ao almoço (e é por isso também que sou republicano, os genes não se reproduzem tale quale), trata-se dum homem que não tem a estatura intelectual do seu avô, pessoa que sabia pensar as circunstâncias históricas e adaptar-se à realidade (pense-se no caso da Argélia). O que estranha, é uma posição claramente defensora de Putin, não fazendo nenhum juízo sobre o seu carácter (ser reconhecidamente um mentiroso, ou um corrupto que se tornou um dos homens mais ricos do planeta), ter uma personalidade intimidante e agressiva, que visa destruir o seu interlocutor (um bully) e ser um déspota para o seu próprio povo, não permitindo liberdades políticas e que pretende eternizar-se no poder. Estranha Pierre de Gaulle não fazer uma única apreciação sobre o acto de invasão da Ucrânia, o bombardeamento sobre civis e a ocupação de zonas muito para além das regiões onde há populações russas. 

No dia nacional da Rússia gravou inclusivamente um filme onde lê um texto de sua lavra apoiando o regime de Putin... 

Pensar pela sua cabeça é bom, mas cabeça dura excesso é algo que até o gigante de Colombey les Deux Églises, o seu ilustre avô, sabia ser de contrariar... Teimosia em excesso leva a negar a realidade. O avô de Pierre, por mais teimoso que fosse, não creio que fosse "mula" de tanta querença. Não creio que o Ocidente possa ser aureolado com uma coroa de santidade e esconde-se muito interesse velado e alguma tibieza, mas estar do lado do bully da classe que dá pancada em todos e de quem todos têm medo, acaba por ser fazer parte do gangue que destrói a paz e estabilidade. Perigoso.





Comentários

Luiz Felipe Lopes de Sousa disse…
Sem dúvida Charles de Gaulle nasceu para ser um Estadista. Não conheço seu neto. Fez muita falta à França quando deixou o governo francês. Grandes governantes daquela época foram Churchill para o Mundo, DE Gaulle para a França e Oliveira Salazar para a Direita, que apoio.

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