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Escrever

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  Diz o Pe. Mário Azevedo da Igreja de S. Domingos que eu serei um escritor. Ontem tive a imensa sorte de me lembrar que na Livraria Bertrand aqui ao lado de casa se iria começar a reunir um grupo para falar de livros. Fui lá espreitar e, de facto, consegui ver pela porta que se sentava um  grupo à volta de uma mesa. Entrei, a conversa já se tinha iniciado há algum tempo... sentei-me por perto, até que o grupo me ganhou e tomei coragem de avançar para a ele me juntar. Acabei por ouvir várias pessoas, "mavericks" como eu, pessoas que tiveram a ousadia de aceitar o desafio de falarem sobre livros com desconhecidos. Penso que apenas uma das pessoas era portuguesa; havia pelo menos dois brasileiros, um cubano, uma francesa, uma russa, dois colombianos, um norte-americano e um casal simpático com uma filha pequena, que não cheguei a perceber donde vinham porque saíram mais cedo. A conversa fazia-se em inglês. Também me apresentei. Nas últimas semanas tenho ouvido muitas palestras ...

Ter um coração agradecido é o mínimo

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Benção é a palavra que me ocorre por uns dias de Paraíso, aqui pelo Rodízio. Veio-me novamente à memória a inspirada Susana Tamaro em o "Fogo e o Vento": “ Não existe mediocridade, monotonia. O que existe é apenas o nosso medo. Medo de crescer, medo de nos abrirmos às emoções. Medo de descobrirmos que não há nenhuma jaula à nossa volta, que o que existe é apenas liberdade, ar. E se erguermos levemente os olhos, o espaço infinito do céu. ” Por um bom bocado estive hoje na Praia Pequena, junto à rebentação e às rochas, escutando aquele comércio do batente das água e espumas; dois setters corriam pela praia, excitados com o mar, ensopados e contentes. E eu, saltitando de pedra em pedra. Não acredito que alguém pudesse ficar indiferente - e senti como Deus nos dá tudo isto de forma gratuita. Se tivéssemos que pagar por isto, não tenho dúvida que se alinhariam muitos e a parada subiria para valores inauditos. Eu como testemunha dum tempo de oiro, onde a água fresca do mar é um b...

Uma rainha em peregrinação

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Estávamos no ano do Senhor de 1325. Por entre o calor da campina, a modos de promessa, por entre um séquito silencioso, avançava curvada e incógnita Isabel de Aragão, a Rainha.    Seu marido, velho e agastado pelas longas guerras com os seus dois filhos Afonsos, morrera nesse Inverno. Entristecida pela morte de D. Dinis, a quem se devotara desde praticamente a sua infância, Isabel partia em peregrinação ao túmulo do Apóstolo, em Santiago de Compostela.    O amor de mulher e rainha levava-a a carregar no coração o peso de uma vida, a dum homem de acção, generoso e enérgico, mas tantas vezes desviado pela intrepidez e o sobressalto, a ponto de poderem fazer dele um homem vingativo. Por isso, como consorte do Reino de Portugal e do Algarve, era importante ir rezar ao túmulo do Apóstolo, encomendando a alma de seu marido, o falecido Rei.   O amor ao seu Senhor de sempre, Àquele que transcende a morte, superior a todos os príncipes e potestades, levá-la-ia a se prost...

Anónimos

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Hoje ao final do livro estarei com amigos e falaremos sobre livros que andámos a ler recentemente. Há pouco, durante a hora do almoço, fui para o Jardim da Estrela ler um pequeno livro que comprei para passar entre amigos e promover as nossas leituras. Este livro, escrito por Joana Bértholo e intitulado "Natureza Urbana", acompanha as meditações de uma mulher só, na grande cidade. Fez-me lembrar um pouco uma prima duma amiga minha, também uma mulher só, na grande cidade e a quem se descobriu rcentemente que terá uma doença oncológica. Gostei bastante do livro, não se pode dizer que seja uma história extraordinária, mas toca em vários temas que eu tenho pensado nos últimos tempos: Antes de mais foca as relações e o que elas fazem connosco: neste caso a relação entre uma mãe e uma filha. De acordo com a "Teoria do Intregracionismo Simbólico", de Mead, somos muito o que os outros projectam em nós: se acreditam em nós, nós teremos uma visão de nós próprios como pessoas ...

O cão mau e o cão bom

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Há uma velha história que se conta relativa a uma conversa que um avô tem com um neto e em que lhe diz que dentro de nós se trava uma luta entre dois cães: o cão mau e o cão bom. O primeiro é violento, raivoso, impiedoso. Vê o mal no outro e o mais importante para ele é sempre sair por cima. Por contraste, o cão bom é pacífico, amável, generoso; tenta apreciar a vida, preocupa-se com o outro, gostava de poder ser seu amigo.  O neto pergunta ao avô qual deles irá ganhar e o avô responde: "àquele que mais alimentares". Esta velha e sábia história retrata na verdade tanto do que se passa connosco e com o nosso mundo interior, na gestão das nossas emoções. O cão mau na verdade não nasce mau. Ele é o nosso instinto para a segurança, o nosso instinto de sobrevivência. A sua existência é essencial para nos protegermos dos ataques exteriores. No entanto, quando o alimentamos demasiado, ele ganha ânsias de domínio, porque está sempre preocupado com o próximo ataque. Quando sentimos qu...

Gratidão

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Comecei o meu dia hoje por um enorme passeio pela natureza. Hoje, ao final do dia, revejo o que passou - e só muito tardiamente no meu exercício me lembro que há que agradecer.  Virar-nos para tentar ver aquilo que o dia nos deu, com um coração reconhecido. Desde a natureza no parque - as lindas árvores nas suas cores outonais, ao lago e aos animais que vi, ao café agradável tomado a seguir e aos vários encontros com outros, ao longo da jornada de trabalho. Foram muitos momentos em que tentámos fazer caminho com pessoas que contam connosco. E, depois, o dia fecha-se e cai a noite - e, entregues ao espaço interior da casa e reunidos connosco mesmo, fazemos as nossas coisas, aquilo que tanto gostamos como tomar um duche para relaxar - comemos algo, e depois tentamos dizer adeus ao dia que passou, da melhor forma possível. Foi um dia que vivemos, onde tantos gestos pequenos preencheram os segundos e os minutos, as horas; mas nada do que foi feito foi em vão, tudo é importante, tudo te...

Une voix, un destin

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Tenho lido e visto várias coisas sobre Carl Jung, um homem cuja vida e trabalho deram muitos e bons frutos. Trabalhou com Freud, mas dele veio a divergir, não concordando com o peso excessivo dado à infância. Nele, embora o subconsciente jogue um lugar muito relevante, o trabalho de interpretação do mundo interior  não tem apenas a ver com o passado, como também com os nossos desejos profundos. Ao contrário de Freud, não estamos irremediavelmente condicionados por uma realidade imposta, moldada pela relação na infância com os nossos progenitores. Ela é sem dúvida importante, mas em Jung há uma ampliação daquilo que somos e, aquilo que desejamos ser e como nos projectamos no futuro, são elementos que entram nesta equação.  O processo de "individuação" é colocar-nos a caminho, vivendo no quotidiano das nossas circunstâncias, dando lugar às nossas vozes interiores e seguindo as nossas inclinações, num processo de descoberta aberto e dinâmico. Precisamos de estar connosco próp...