Edgar Morin e a nossa multiplicidade

Ontem à noite assisti a uma palestra gravada no Youtube de Edgar Morin em 2013 intitulada "Amor, poesia e sabedoria" (tradução do francês).

Trata-se dum homem interessante, que procurou a arte do viver, não sendo apenas um pensador, afastado do mundo. Diz-nos ele que a sabedoria é fruto de uma vida que arrisca, que não é meramente racional; o contrário seria loucura, o que contém em si uma espécie de paradoxo. pois poderíamos pensar que é sábio aquele que já domina a realidade. Mas não é assim com Morin, que ensaia uma antropologia em muitas dimensões: o Homo Sapiens, como o Homo Demens, o Homo Faber (aquele que produz) e o homem espiritual (aquele que reza a um ser superior), ou mesmo o Economicus ou o lúdico.  

Enquanto seres humanos relacionamo-nos com os outros nossos semelhantes tentando progredir nas nossas vidas. Viver em sociedade é muito complexo e obriga-nos a ensaiar um diálogo com os outros, explicando de nós, e das nossas razões. No entanto, não podemos apenas contar com a racionalidade, pois é inevitável que o campo das emoções entre no jogo (dum lado e doutro). Não gostamos de ser vencidos, que a nossa posição não vá avante. Sentimo-nos feridos no nosso íntimo pela derrota. E aí, muitas vezes, desperta o Homo Demens, o ego que dispara setas para ferir o adversário, mesmo que não tenhamos dado ordem de ataque... é um mecanismo quase automático de defesa.

O pior que pode acontecer é ceder ao descontrolo das emoções. No entanto, elas são importantíssimas e devemos tentar filtra-las, percebe-las, conduzi-las. Elas não são inimigas da razão, aliás elas podem ser aliadas. Precisamos do fogo que as emoções dão, do seu combustível. 
 
O trabalho de educar esse ego é trabalho para toda uma vida e, na verdade, não podemos deixar de admitir nas nossas vidas um certo Homo Demens. 

O nosso ego é extremamente sensível, pede a nossa atenção e viver não é fácil. Por vezes sentimos a injustiça, a incompreensão, o nosso chão abala, parece que tudo treme, o nosso edifício parece que pode ruir. E alguns ataques vêm justamente de dentro do edifício, dum homo demens que pode precipitar a ruína dum edifício fragilizado...




 

 

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