A esperança demencial de dois argentinos
Chegado ao seu fim da vida, o escritor Ernesto Sabato escreveu um pequeno livro, na sua tradução para português - creio que da D. Quixote - chamado "Resistir".
É uma espécie de testamento espiritual em que ele começa por dizer que uma espécie de "esperança demencial" no Ser Humano o levou a sentar-se, uma vez mais a escrever.
É dos meus livros preferidos.
Um homem creio que perto dos seus 90 anos que faz o balanço duma sociedade desde os seus tempos de pequeno até à sua velhice. Relembra os velhos valores da comunidade, a honradez e a vergonha de quem cometia qualquer falta, o sentido do trabalho, feito em conjunto com outros, com rituais e práticas que ligavam uns aos outros, no suceder de estações. A Buenos Aires dos seus tempos de menino era bela, as casas tinham buganvílias.
Fala depois do evoluir dos tempos, do lugar cada vez mais proeminente das tecnologias, que como que hipnotizam o ser humano, o individualizam, o isolam. Nada que se compare ao prazer da criação, de fazer uma peça de barro, por exemplo.
Mas dentro dele corre uma corrente de esperança, a esperança de que o ser humano rasgue o horizonte, semeando luz. E esse é um testemunho muito bonito, muito terno. É uma opção ao estilo de Pascal (como ele dizia uma "aposta"). É o olhar.
Somos todos convidados a ter esse olhar, a tentar habitar os nossos espaços temporais e físicos dessa confiança. É talvez essa também a aposta doutro argentino, o Papa Francisco, que nos convida neste ano de Jubileu a caminhar na Esperança!
Comentários