Once I had a farm in Alentejo!

Hoje sentado à varanda e olhando o horizonte que se estendia à minha frente a perder de vista pude sentir que para ser verdadeiramente feliz não precisaria de muito. Bastaria - e aqui o bastaria é uma palavra que reveste algum engano - uma paisagem assim, esta extensão de terra a perder de vista, uniforme de azinheiras e sobreiros, um céu assim a arroxear e tantos passarinhos a voar, num chilrrear intenso, vibrante.
Como não sentir a alma cheia, e como não ser sensível a esse extraordinário cenário de uma tarde destas?
Não resisti. Pousei o livro na cadeira e fui ter com a manada de cavalos. O pasto de um verde intenso, um pasto cheio de força e vigor. E uma manada de cavalos lindos. Como não podiam ser estes cavalos cavalos calmos e fortes? "Devem ser cavalos felizes", disse para o meu amigo Ricardo que chamei. Fomos depois até junto da barragem. A lua cheia. Mama! "Once I had a farm in Africa".
Um passeio a cavalo. Um cavalo como o Pagão. A fazer aquela passage. E eu lá em cima a sentir-me o Mestre Nuno de Oliveira. Não, isso não aconteceu hoje... Mas podia ter acontecido. Mas o Pagão estava na box. E os cavalos eram outros três. A mim calhou-me o CT. Uma bela galopada. O cavalo podia ser melhor. Mas o prado, bem, o prado estava lindo: uma várzea plana, rasteira.
Obrigado por este grande privilégio. Sinto que quando estou assim perto da natureza estou mais perto de mim e de Deus.
Agora à noite vi pela primeira vez um grupo de javalis. Atravessaram-se mesmo à nossa frente no caminho para a Mata.
Obrigado Senhor pelo grande privilégio de gozar este inexcedível Alentejo.

Comentários

Maria disse…
Acabada de chegar de Linhares da Beira, de uns dias, de “paragem”, de retiro, de calma e encontro com uma natureza tão característica, tão austera, tão silenciosa, tão “fria”… de uma “gente” tão simples, de uma humildade tão genuína… foi bom passar esta tempo da Semana Santa longe; fora das rotinas comuns, dos hábitos… foi bom romper com a tradição já “instalada” em mim e sair… cheguei cheia de vontade de voltar a escrever… e quando regressei ao blog encontrei um título que dizia:
Once I had a farm in Alentejo!

… ri-me com aquele riso espontâneo, de quem recorda, mais uma vez, um dos filmes da minha vida… mas também como quem sonha, todos os dias, realizar… não só o de “ter”, mas o de “sentir terra”… de quem se realiza na simplicidade, muitas vezes difícil, de uma vida crua, despojada, mas de profunda riqueza…

… por mais estranho que possa parecer, sempre vivi ao pé do mar. Os barcos, as regatas no Tejo, Tróia… o tão famoso Areal do Bugio que há anos desapareceu… os longos, cansativos mas revigorantes dias de mar, onde ali, naquela imensidão azul e verde, onde a paisagem de terra é como uma moldura que nos cerca, sem nos prender, nos leva para uma audaz pequenez de quem se sente mais um bocadinho deste mundo… a última vez que me senti assim, foi nas últimas ferias de mar e barcos na costa da Galiza, nas rias de Vigo, onde cada ilha era única, selvagem, deserta… onde a sensação de liberdade nos “sufoca” ao olhar toda aquela imensidão de mar, de um pôr do sol que toca esse mar, de um vento que arde na cara seca e queimada do sol, de um horizonte que nos “chama” nos atrai e onde queremos alcançar, sempre, mais e mais… tudo isso fez parte da minha infância e da minha juventude… Levei anos a acordar a olhar para o mar, fins de semana e férias a fazer vela; anos em que fazia a marginal de comboio, mais tarde de carro, em que aquela paisagem era uma presença que já fazia parte de mim…

… E se o mar e os barcos eram, e são, uma constante na minha vida, pouco a pouco, por coincidência também o Alentejo se tornou num “refúgio”… Os tempos foram passando, e a minha família, que sempre fizera “férias de mar”… começou a passar os meses de verão no quente Alentejo…Lembro-me das primeiras férias em Castelo de Vide… lembro-me de todos os finais de tarde num alpendre que dá para um olival imenso, sentir falta daquela imensidão de água a que estava habituada desde criança… do azul que quebra o amarelo e acastanhado de um Alentejo seco, imenso… Lembro-me de me sentir invadida; sentir que aqueles montes me tornavam pequenina, me engoliam, naquele silêncio denso… para quem está habituada às noites frescas da costa… de quem adormece a ouvir as ondas do mar, o exercício de estar num alpendre onde à nossa frente tudo é terra, onde a monotonia da Natureza é quebrada, apenas, com os pequenos ruídos de animais… foi um difícil exercício… e os anos foram passando, e hoje os meus verões são passados entre Castelo de Vide e Montemor-o-Novo, entre tanques e charcas “resistentes”; entre campos de milho e olivais… dias cheios, com tempo para estar; bons vinhos; boas conversas; boas leituras; muito sol; e assim se passam quatro semanas… as pessoas vão mudando, a paisagem também, mas é sempre o mesmo Alentejo… e em Setembro quando chego à marginal sinto uma sensação estranha de quem traz uma paz típica de um Alentejo parado, tranquilo, com hábitos e rotinas característicos e que, de repente, é invadida por um mar que agita…
Maria disse…
Este mar que era tudo em mim, passou sem saber como a ser apenas uma parte de mim… sim dias de mar, serão sempre dias de profundo refúgio solitário, de uma sensação aventureira que nos torna mais audazes, talvez mais vivos… e os tempos de campo, são tempos de recolhimento, de paragem, de estar… de criar raízes, de pensar, de uma paz difícil de explicar… no mar sonho… em terra penso e amadureço, tudo o que vivo… pode não ter nexo, mas estes dois ambientes levam-me a estados de espírito totalmente diferentes, mas ambos são necessários…
Acho que entendo, quando diz que pequenos e simples sítios “bastam” para sermos felizes, cada vez mais o confirmo… nunca ambicionei nada na vida com uma força desmedida, incapaz de ser alterável… sempre sonhei muito: sonhos possíveis, sonhos mais difíceis de alcançar… nunca deixei de sonhar… vou fazendo o caminho que me é proposto todos os dias; etapa a etapa, umas fugazes, que talvez não saboreie como deveria, outras difíceis, que me fizeram crescer, que me fizeram reagir à vida… e me mostraram que a felicidade é mais simples do que eu procurava… está ali na simplicidade de cada dia, naquelas rotinas que, tantas vezes nos fazem entrar em “piloto automático”… há que saber estar, parar, contemplar e agradecer os pequenos e grandes momentos, de um dia, de uma semana, de um mês e até de tantos anos da nossa vida…

Aprendi que muitas vezes há pequenas mudanças,
que para nós não fazem sentido aparentemente, que nos fazem sofrer mas que na verdade nos elevam a um novo patamar, a uma nova etapa de vida, que se estende à nossa frente… em Setembro ia para missão, uma decisão sonhada há anos, discernida e preparada… e no momento de ir, de me lançar numa nova “viagem” para um Continente que me diz tanto; onde iria Servir apenas, “naquilo que sou”, na minha vocação e profissão, a Educação… tudo mudou…

E em duas semanas, estava a trabalhar… foi difícil, arrumar e digerir todo este conjunto de sentimentos desmedidos que se tinham construído… o meu coração estava preparado e pronto para ir e agora era chamado a ficar… Parecia um vulcão em perigo eminente, mas à medida que o tempo ia passando, e aos poucos me ia adaptando e realizando, nesta fase da minha vida, comprovei mais uma vez, como Ele é criativo, como se revela em pequenos elementos… e isso deu-me paz… e estes últimos sete meses têm sido de verdadeiras mudanças… eu que nunca tinha pensado, na possibilidade, de sair de casa dos meus pais, acabo de me mudar para o sitio onde SEMPRE quis viver, desde pequena, daqueles sonhos que guardamos no nosso coração, que vivemos em segredo; e talvez por isso se tornem tão bons de ser sonhados, que partilhamos em alguns momentos da nossa vida com “outros” significativos, mas que, lá no fundo, são só nossos… troquei o viciante Mar azul, em que sempre vivi, e que tantos acharam que dele não me conseguiria separar, pela Serra, uma Serra que me acalma, me traz serenidade, paz… aqui sou mais eu, é estranho mas é verdade, muitos amigos dizem que é a minha “veia Queirosiana” determinada, cheia de inúmeros subterfúgios… riu-me e digo-lhes que são os travesseiros da Piriquita; os pequenos almoços na Natália; os chás ao final da tarde em Seteais e, a maior de todas as apoteoses, os Domingos de feira, um vício fascinante que transporto comigo desde tenra idade; a minha paixão por feiras, mercados, festas regionais… Porquê? Não sei bem, mas sempre foi assim, ainda não era maior de idade e já andava a Maria nos mercados e feiras de Marrocos à procura de “novas variáveis”, de novas experiências, de pessoas, de vida… fascina-me…

… a verdade da mudança é apenas uma… encontro-me nesta Serra, vejo-me nesta Serra, sinto-me, e só isso basta…
Maria disse…
Adiei a minha ida para missão, mas Deus, ao longo destes meses, tem-me proposto, um exercício diferente , o de estar “por cá” em missão… e, aos poucos, estes vão sendo tempos serenos, de paz, de quem conseguiu parar e voltar a centrar a vida nesta terra, “nos de cá”, nestas crianças e jovens com quem trabalho todos os dias, nestas famílias que vivem uma miséria desmedida, camuflada e silenciada… mas que EXISTE muito perto de nós… e eu iludida; que hoje tínhamos apoios, subsídios, casas camarárias, departamentos sociais, médicos e de reabilitação… Existem é um facto… com muitas pessoas que se entregam todos os dias para que toda esta rede funcione e dê frutos, mas sinceramente, e não querendo ser pessimista ou derrotista, com muitas outras que corrompem, destroem e bloqueiam estas “ilhas de esperança” num equilíbrio social, onde a única coisa que peço é que Seres Humanos como eu, tenham o mínimo que todos merecemos em dignidade e respeito… Talvez seja Utópica, talvez tenha ainda em mim a revolta moral própria, dos nossos anos, de adolescência… mas que espero, sinceramente, não perder… é ela que me tem dado lucidez para não embarcar nos facilitismos de uma sociedade totalmente desumanizada, sem moral, ou melhor, com falsa moral, onde o capítulo Ética foi arrancado por completo…

Foi bom voltar a este blog. É bom sentir que não somos “ilhas”, num mundo com tanta falta de tacto e tempo para os “outros”. Foi bom estar estes dias fora e agora voltar cheia dessa sensação, que sinto ser a mesma que descrevia neste testemunho…

Termino este gigantesco comentário, e peço desculpa por esta minha incapacidade de ser resumida, com uma pequena passagem, que me fez pensar e que até agora não me saiu da cabeça, do livro que me acompanhou nestes dias “Um só Propósito” e que nos diz: “Como “programa” levo um só propósito, total e absoluto: conhecer, amar e servir.” (D. Manuel Clemente)

Santa Páscoa
Maria
Anonymous disse…
Obrigado pelos votos para a Páscoa, tive de facto uma Santa Páscoa. Estive com os meus pais e dei sobretudo com o meu pai um passeio a cavalo por mais de 3 horas em que - raro - conversei com ele imenso!
Hoje o melhor do meu dia foi de facto a Marginal e a Praia de Carcavelos. Estacionei o carro eram 18h00 e estive alí, junto ao mar, a correr para a frente e para trás!
Hoje, curioso, dei uma entrevista para a Revista Visão, de manhã. A jornalista era simpática e depois fui fotografado. Sinto-me mal frente a Câmaras e não sou nada fotogénico! Acho que vai ser bom esta oportunidade de sair um artigo sobre os meus projectos. Centrei muito o meu discurso na questão de criar lugares de pertença, ideia que congrega as nossas iniciativas. Se calhar será já esta 5.ª feira que sai, mas não há garantias.
A vida não é fácil, e esta Quaresma foi realmente um período de deserto. Projectos que não correram tão bem quanto desejava e que não deixaram de criar uma certa tristeza. Percebo Maria quando fala de ter que adaptar a vida um pouco às circunstâncias do aqui e agora. Mas às vezes não é nada fácil. Como tenho passado tanto tempo ultimamente no Alentejo, tenho dado por mim a pensar que não sou talhado para esta vida de cidade. É porque adoro simplesmente aquela região. Acho que é a região mais civilizada do Planeta: mais bonita, mais arranjada, onde se come melhor, onde há animais como os cavalos, os cães e se tem tempo para gozar tudo isso! Embora nunca tenha estado em África, o Alentejo para mim tem um bocadinho de África. E África deve ser o Continente mais fascinante de todos: aí a dimensão do tempo é outra.
Duarte
Maria disse…
Duarte,

Nem sempre os nossos projectos, apostas e expectativas correm como esperávamos e em nenhum momento isso pode ser sinal de “derrota” ou fracasso. Muitas vezes perdemos “batalhas” mas dificilmente perderemos a “guerra”.

Acho que nunca lhe disse mas admiro toda esta aposta que o Duarte faz, todos os dias… alguém que fez e trilhou os “sábios” caminhos de Direito; mas que a certa altura só isso não bastou… talvez o curso não o tenha preenchido, realizado… talvez dentro do seu coração houvesse um “bichinho” inquietante que lhe pedia mais e mais… um mais, que não estava nos códigos, que não estava nos seus casos… mas que, aos poucos o contagiava e puxava, para novos desafios, e sinto que ainda há muito para “puxar”. O Duarte é uma pessoa que vai à procura de si, nas pequenas coisas, que não tem medo de ir… e isso é tão bom. Alguém que se sente “inquieto”; que sente falta de alguma coisa e que, pouco a pouco, vai procurando… estuda, investe, projecta e retira dessas entregas frutos: sejam eles um Livro, uma empresa inovadora e empreendedora ou apenas pequenos pensamentos hipotéticos do que vai pensando e “lendo”, interpretando e construindo a vida.


Para mim, essa é a grande diferença de um Homem comum que estagna o seu Crescimento e Sabedoria, apenas porque já alcançou determinado patamar de conteúdos ou simples graus académicos, e o Homem comum que vive em constante procura, onde o saber inquieta e por isso procura novos saberes… num difícil, complexo e, muitas vezes, demorado processo que o leva a um crescimento interior de quem descobre, ao mesmo tempo que se descobre; tantas vezes numa constante luta interior, mas que acredita, que só assim chegaremos a bom porto. Podem existir muitas pessoas com essas intenções e vontades, mas são poucas as que ousam, também, “por cá”, já falámos nesta importância… da entrega incondicional que tem de existir, às inquietações mais profundas e que, sem medo, as consigam viver, no seu dia a dia… com momentos onde são ganhas batalhas, e em outros, em que as perdemos, desmotivamos, ficamos mais cansados, mas nunca desistimos. É bom sentir que o Duarte é alguém que “está cá” para investir, dar, procurar, melhorar, realizar… diria antes, dar-se, procurar-se, melhorar-se, realizar-se…
Maria disse…
…Mais uma vez ri-me e identifiquei-me com o seu testemunho, quando disse “Embora nunca tenha estado em África, o Alentejo para mim tem um bocadinho de África.” Lembrei-me de imediato da primeira vez que estive na barragem de Santa Clara, chegámos já era noite, depois de muitas horas de caminho, na cabeça e tempo de uma criança de cinco anos; ao sair do jipe e depois de passar todo um caminho de terra batida, ainda aquele Alentejo era um lugar perdido no mundo, chegámos a uma casa toda de pedra, com candeeiros de petróleo; lembro-me, perfeitamente, de sentir aquele medo, típico de uma criança que está num sítio diferente, desconhecido… os ruídos, as estradas de terra, os solavancos do jipe, a casa de pedra, a falta de electricidade… e com os olhos enormes, de medo e espanto, talvez, na altura tentando fazer uma ligação ao meu imaginário, olhei para a minha Mãe e perguntei de forma quase que afirmativa: “Mãe isto é mesmo África, não é? Estamos em África?”

Todos se riram daquela pergunta, feita naquela noite de chegada a Santa Clara, ainda hoje é uma história contada em família, pela forma como vivi aquele momento… mas ao ler a sua frase, senti pela primeira vez, depois de tantos anos, que talvez não tenha sido uma afirmação tão descabida e ingénua. Todos se riram naquela noite… mas talvez aquela afirmação tivesse muito de verdade… passa pela forma como vemos e interpretamos o mundo, como o sentimos…

Desde pequena que sinto que aquele continente me chama; através de inúmeros livros que li, de filmes, de pessoas que passaram e passam pela minha vida… África foi sempre uma presença ausente, mas esteve, sempre aqui… E ali há tanto para fazer; é tudo tão “árido”; tão “carente”; em Nampula, por exemplo, existe uma Educadora licenciada, para uma província do tamanho de Portugal Continental. Inexplicável?! Incompreensível?! Chega a chocar!

… Para quem tem uma incapacidade de desligar, destas “pequenas” variáveis do mundo, a vontade de ir e Servir, cresce de dia para dia como um elemento que temos dentro de nós, nem sempre o vemos, nem sempre o identificamos mas ele vai ganhando espaço e, aos poucos, vai “contaminando” cada bocado daquilo que somos. Passar “por cá” sem sentir aqueles cheiros, sem pisar aquela terra quente, sem ouvir e vibrar ao som daquela música, que lhes corre no sangue, sem chorar com aqueles que todos os dias tentam sobreviver, tornando-me firme para ajudar e servir mas partilhar aquela dor, aquele sofrimento, aquela ausência de tudo num continente onde, aparentemente, não falta nada… seria não viver uma parte de mim… uma parte que tem muita força, que condiciona muito do meu crescimento interior, mas que tem aprendido a esperar… e como tem sido tão importante… é como quem vive uma paixão com tudo o que esta tem de inquietante, envolvente, obsessiva, desestruturante; e que, aos poucos, a vai tornando num Amor amadurecido, consolidado, sereno … que nos dá uma paz imensa da certeza que este é agora rocha firme, que tudo suporta, tudo espera, tudo pode… acredito que esta transformação de paixão, vontade impulsiva a amor é necessária em tudo o que vivemos…

Estes anos de espera, em especial estes últimos sete meses, têm sido tudo isto… sem grandes agitações, sem grandes faltas de paz, pedindo e acreditando que Ele me dirá Quando…
Maria disse…
Entendo quando diz que não se identifica com a vida da cidade… também nunca me identifiquei; não só com o ritmo, com o stress, com as múltiplas absorções, mas com tudo o que a “cidade” nos exige. O tempo acelerado que nos consome; a “máquina” de objectivos e metas, que a cada minuto nos consome e esgota… trabalhamos, em prol de uma carreira, que tantas e tantas vezes, nada tem a ver com o nosso enriquecimento pessoal; vivemos a construção de um “status” que nem temos tempo, de qualidade, para desfrutar e viver; construímos famílias, não só no caos de uma sociedade vã, mas tantas vezes no nosso próprio caos… e basta olhar para o nosso “mundinho” pequenino para rapidamente perguntar: Porquê?

Lembro-me de ser criança e de ver filmes, como por exemplo, “Uma casa na pradaria” e de desejar aquilo para mim, quem não se lembra daquele genérico dos campos verdes a perder de vista, das crianças a correr, de toda uma história real, com problemas, com dificuldades, mas onde tudo era diferente… e o diferente não está no tempo, mas sim no lugar, no ambiente envolvente… e sempre que a inércia e a incapacidade de sonhar, de acreditar, se apoderam de mim, relembro todos esses filmes, releio todos esses livros e desejo construir um bocadinho de tudo isso… talvez a minha mudança, para São Pedro de Sintra já seja um começo… adoro estar rodeada de pessoas, mas sempre precisei do meu tempo, do ritmo, do meu espaço.

Adoro chegar a uma cidade cosmopolita, Londres, Paris, Roma, e sentir aquela agitação, aquela aculturação, aquele embaralhar de vidas paralelas, que se cruzam, que tantas vezes se tocam que não pára… fascina-me estar no mundo e ser “engolida” em alguns momentos por ele, mas desde pequena que sentia falta- hoje em dia preciso mesmo de sair - de me afastar, de sentir os momentos… Lembro-me de um fim de ano em Londres no meio da multidão, onde me estava a divertir muito, sentir necessidade de me afastar, subir a escadaria do National Gallery e ficar ali, a olhar a ver e contemplar aquele momento, sentir aquela “gente”, desfrutar daquele ambiente mas “à minha maneira” como diriam os Xutos…

… para muitos sou uma pessoa que precisa de estar sozinha, eu diria que, às vezes, preciso de estar comigo, são perspectivas…

E porque quando começo a escrever perco a noção do tempo e da quantidade de informação, tantas vezes densa que “despejo” em cada frase e parágrafo,termino com um pequeno excerto de um texto de Kahlil Gibran que diz:

"- Fala-nos das Casas.
- E ele respondeu:
- Com a vossa fantasia construí um abrigo no deserto
antes de erguer uma casa dentro das muralhas da cidade.
Porque assim como regressais ao lar ao cair da tarde, assim
regressa o vagabundo que há em vós, sempre distante e solitário.

A vossa casa é o vosso corpo maior.
Cresce o Sol e adormece na inquietação da noite;
e não precisa de sonhos.

Sonha com a vossa casa e, sonhando, não abandonas a cidade
saindo pelo bosque ou pelo alto da colina?
Pudesse eu juntar as vossas casas na minha mão e,
como semeador, espalhá-las pela selva e pelo prado!

Fossem os vales as vossas ruas, e os verdes caminhos as vossas travessas,
para que pudésseis procurar-vos uns aos outros através das vinhas e voltar
trazendo aroma de terra na vossa roupa!

Mas estas coisas ainda não podem acontecer. (...)"

Ficarei à espera da edição da próxima quinta-feira…

Maria

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