Revisão de vida

Eu tinha um hábito que de alguma maneira perdi: todos os meses eu reservava um dia para durante 2/3 horas fazer uma revisão do mês que passara.
Em Sintra, saía de casa, com uma mochila. Levava um livro velho de um escritor espiritual, o Pe. Michel Quoist. Esse livro chama-se "Reussir" (em Português, "Construir"). Esse livro pertencera ao meu tio Duarte, irmão de meu pai, que morrera ainda jovem. Seguindo pelos caminhos antigos da Serra de Sintra, chegava por vezes ao Parque da Pena, onde, para os lados do lago e, indo em direcção do Chalet da Condessa, fugia um tanto dos caminhos mais expostos. Na verdade, não encontrava quase ninguém por lá. E, assim, serpenteava pelos trilhos, mais como exercício de suspensão do que para gozar a paisagem, em que ia puxando pela memória. Os cadernos onde rabisco tudo o que preciso, serviam para reavivar a vida assim vivida, ao longo de todo um mês...


Comentários

Monserrate disse…
Belo “mote” Duarte.

Porque será que temos tanta facilidade em perdermos bons hábitos? Porque é que não somos fiéis aos gestos? Porque já não os achamos essenciais? Porque já não precisamos deles? Porque também já não vivemos a vida com tanto rigor?

Há Amigos que nos ensinam muita coisa… há Amigos que de tanto investirem em nós, nos mudam, sem sabermos quando e como tudo aconteceu… o Pe. Ricardo ensinou-me a importância de “rezarmos a vida” mais tarde a importância do “dever de sentar”… foi um “educar” de anos, difícil para alguém que naturalmente foge da disciplina, da obediência, dos rituais…sou facilmente "distraível"!

Agradeço-lhe os conselhos, as pistas, a margem criativa, a grande inteligência emocional que tinha. Era especial e único na forma como “escutava”, na empatia que criava, no entendimento e na maneira como “embarcava” nos meus devaneios. Nunca fui tão compreendida!

Disse-lhe sempre, que queria arriscar estas “revisões de vida” sozinha, que não queria depender de “outros” para discernir a minha vida; que apenas apresentaria resultados. Durante anos, soube respeitar a minha decisão. Quando morreu, morreu um Amigo e o único ouvinte destas minhas “revisões”.

Ficou até hoje o gesto…

Agradeço à vida ser tão generosa e podermos tantas vezes voltar a estes bons velhos hábitos.

Terá de haver, sempre tempo e espaço para este encontro. Poderá não ser todos os meses; poderá não acontecer, sempre em sítios bonitos e inspiradores; poderemos não ter serenidade, discernimento, um coração limpo e capaz…

… mas fica o gesto fiel à Vida… à nossa “revisão de vida”.

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