Dr. Peripatético

Nascera no seio de uma família pequena, mas rodeada de afecto. Poucos meios materiais, mas um ambiente cálido e também de grande humor. Desde pequeno que seu pai lhe chamara o "Dr. Peripatético": todos os dias, Frederico caminhava com a sua irmã para-e-da escola e iam/vinham os dois sempre à conversa, caminho fora. Estavam no Centro Social e Paroquial do Campo Grande, onde preponderava o grande humanista Pe. Victor Feytor Pinto. Viviam na rua Afonso Lopes Vieira, não era longe. Muitos dias, Frederico esquecia-se de algo: livros, camisolas, etc. 

Estranhamente, seu pai não era crente, mas rendera-se ao trabalho do Pe. Feytor Pinto e à sua dimensão humanista. Formara-se em filosofia, no primeiro curso de filosofia da Universidade de Évora, estudara os Humanistas da Escola de Direito Natural, Molina e outros.  

A grande paixão da família era o ténis, que jogavam sempre que podiam, na casa da família da mãe, na Arrábida. Não iam à missa. Era esse o seu ritual religioso.

No Verão e fins-de-semana, Frederico vivia numa roda viva de primos. Acampavam na serra da Arrábida, passeavam no jeep Willis do seu tio entre praia e mergulhos de piscina, onde se estendiam a apanhar sol, enquanto passavam salamandras muito rápidas por entre as pedras do pavimento. Volta e meia partiam em grupo para apanhar amoras, pelos muros das quintas ou para ir em exploração até um ribeiro, não muito longe.

Nas festas de anos o seu pai organizava peddy-papers, eram provas que geravam um grande entusiasmo.

Quando se tornou mais velho, Frederico passou a jogar regularmente no Racket Club de Lisboa, tendo-se tornado tão competente no ténis que quis tornar-se um jogador profissional. 

Ao chegar ao 12.º ano, foi estudar para os EUA, para a Carolina do Sul, para uma academia de ténis. Foi aí que soube da notícia trágica da morte da sua mãe, o que o obrigou a voltar para Lisboa. Mas lá conheceu um homem que foi muito importante para ele e que lhe disse que o ténis era como a vida: distinguimo-nos pelo chamado "trabalho invisível", por sempre dar o nosso melhor - os mil e um gestos diários que fazemos como formiguinhas - isso é que faz a diferença.

Nesses tempos em que esteve nos EUA estudou também. E foi aí que teve contacto com a história do Forte Sumter, onde estalou a guerra civil americana. Quando a sua mãe morreu, Louis Flour ofereceu-lhe um livro de Abraham Lincoln. Também ele tinha perdido a sua mãe.

Regressado a Portugal, Frederico vai cursar direito. Acaba direito e entra na firma de seus primos no Chiado. A especialidade do escritório é direito marítimo, tendo ido realizar uma pós-graduação a Roterdão. 

Indigna-se com instituições paradas no tempo como a Ordem dos Advogados, ou a própria Administração Pública.

A vida de escritório vai-se desenvolvendo, Frederico vai ganhando experiência. 

Destaca-se pela sua capacidade de trabalho, pela sua perspicácia, mas também pelo seu sentido de humor. É um apaixonado por história. Adora os descobrimentos. Acha em certa medida que Portugal ficou para trás, que é preciso inovar, reformar, quem sabe mesmo revolucionar!

Em Londres, enquanto assiste à final do Wimbledon, prepara activamente o seu próximo passo: candidatar-se a Bastonário da Ordem dos Advogados. Há que reformar a profissão. Há demasiada gente insatisfeita, infeliz, deprimida.

Almoça com amigo inglês que lhe fala dos novos tempos, mais virados para o coaching e para o mentoring. Numa chuvada ao ir para o hotel, vê que a profissão apesar de tudo continua igual como o vestusto chapéu-de-chuva: debaixo dele protegemos as pessoas dos pingos-da-chuva. Sempre a profissão é "ad auxilium vocatus". 

Imagina a história de Abraham Lincoln, o grande presidente americano e ele também advogado. E imagina a história dele, puxando por Tom Sawyer, 

Como pensá-la nos nossos dias? Será possível ser feliz como advogado, agora que se está demasiadamente talvez apostado na eficiência? Tempos em que a solidariedade entre advogados é mais pequena e cada um está mais do que nunca fechado no seu pequeno gabinete?

Frederico Pery (é este o seu nome... daí o "Peripatético"), e esta é a narrativa de como o Dr. Peripatético vai tentar reformar a profissão!



 







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