Escrita em tempos de férias

Férias. 

Sinto a frescura a entrar pela casa, mas o dia está quente. Carrego uma mala cheia de livros, comprados pela Fnac numa noite de ímpeto. 

A literatura contemporânea como a de Philip Roth, uma escrita cuidada - laboriosamente aparada. É um retrato muito humano, realista e visual de um jovem escritor, que certa noite se encontra com um escritor já consagrado. "O Escritor Fantasma", é o primeiro duma trilogia - ao que parece, que conta a história de Zuckerman (alter ego de Philip Roth, leio  na Wikipedia). O primeiro capítulo do livro intitula-se "Maestro", e é a introdução desse encontro, todo ele definido pelo estreitar entre os dois e o titubear nervoso do aspirante escritor. Passa-se ele justamente em casa do "maestro" Lonoff, onde Zuckerman vai jantar e onde acaba por ficar a dormir. A noite já ia alta, a conversa, essa, foi-se estendendo, acompanhada de um brandy lento, tomado após a refeição e depois da erupção nervosa da dona da casa, incomodada com a contenção de seu marido. O serão reservara também a visão duma musa, misteriosa jovem que o casal acolhera, que sai para um outro jantar e que recolhe mais tarde de novo, sob a grande expectativa do novato escritor, que a escuta por entre as paredes...

Quando disse que se tratava dum "retrato muito humano", é porque sinto que as ansiedades, as dificuldades, as incompreensões familiares que a sua vocação artista provocam - e a sua grande coragem de ir atrás da sua voz interior, são uma radiografia muito bem tirada à alma da personagem principal do livro. 

O livro reserva-nos surpresas interessantes, como o da identidade da referida rapariga, num verosímil cruzamento da realidade com a ficção e que enriquece o enredo, para já não falar das referências literárias como a Henry James e ao seu conto "Middle Years" em que o protagonista principal, chegado ao final da vida, conclui que agora finalmente já sabia escrever, mas que lhe faltava já a energia e força para tanto, pelo que o ideal seria uma segunda vida. E então diz (no original): "we work in the dark - we do what we can - we give what we have. Our doubt is our passion and our passion is our task. The rest is the madness of art", frase que Lonoff tem pendurada no seu escritório, local onde Zuckerman se acomoda para dormir, mas onde acaba por não pregar olho, tal é o seu excitamento nervoso com tudo o que se passara durante a noite.

Férias. Tempo para uns mergulhos na praia, para relaxar. Que bom.









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