Versejar


Há muitos anos, um amigo meu dizia-me que conversar é colocar a língua em "versos" ("com-versar"), é "versejar".

Sentado a uma mesa, salto de assunto em assunto, gosto da conversa solta, daquela que se faz ao ritmo rápido da evocação. 

Por isso, entedia-me ouvir narrativas demoradas, uma espécie de imposição de autoridade, que nos obriga a estar ali, calados; conversar é como dançar, acontece a dois, um diálogo de olhares e de passos.  

Quem se gosta de ouvir, gosta de aprovação. Eu gosto mais de conversar. 

Esta semana disseram-me que eu sei ouvir. Fiquei feliz. 

Escutar, mais que ouvir, é sinal de sabedoria. Eu gosto mais da palavra "escutar", que da palavra "ouvir".

Há palavras que se deviam dizer mais, como a palavra contemplar. "CONTEMPLAR" é uma palavra bonita, tem em si a palavra "TEMPLO" e parece que a tem de uma forma que continua: "COM-TEMPL-AR...". Parece o exercício de continuar o templo.

Na minha vista vejo uma das cúpulas mais bonitas de Portugal, é a imagem mais parecida que temos no nosso país do duomo de Florença. A cúpula de Monserrate.

A luz é arroxeada. Passam andorinhas no céu. Já passaram pombos-da-rocha.

Lá em cima está a Pena.

Estou junto à grande árvore que plantei, ou melhor que "transplantei" com cerca de 8 anos. Eu transplantei dois pinheirinhos, que são agora duas enormes árvores. Estes pinheiros e as suas ramadas são dois seres que me acompanham.  São enormes e hoje, iluminados por esta luz, enquanto tudo em volta é belo, são uma espécie de guarda pretoriana ao meu final de dia. Sólidos e hirtos, leais companheiros.

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