2.º dia em Nápoles

Dia da Ascensão de Nossa Senhora aos Céus, dia Santo na Cristandade e dia Santo, como não podia deixar de ser, em Nápoles - La Madonna! Comecei o meu dia com missa no Convento das Clarissas, um lindíssimo convento onde estão sepultados vários membros da família Bourbon. Uma cerimónia simples e com um sacerdote que colocou bem a "questão", centrando-o no mistério da vida de Cristo e na Sua dávida de si, por amor, a todos nós. 

Percorrendo uma vez mais as ruelas de Nápoles, consegui finalmente entrar na Catedral de Nápoles, dedicada ao seu Padroeiro, S. Genaro (S. Janeiro?). Uma missa solene, com o Bispo de Nápoles, co-adjuvado por uma mão cheia de sacerdotes acabava e ouvi um coro, que me pareceu de africanos. Era de facto. Aproximei-me e reparei, no primeiro banco da Catedral que, enquanto cantavam, dançavam. A mesma experiência de alegria que tinha sentido em Roma, uns anos antes, em 2000, nas Jornadas Mundiais da Juventude, em que participara numa missa cantada por um coro da Martinica. A cerimónia acabava então e aproximei-me ainda mais do altar, onde um bispo jovial e bem-disposto, distribuía beijinhos e pousava para fotografias, juntamente com fiéis. Consegui depois perguntar donde era o coro - Voi sono italiani?, ao que me respondeu um dos seus membros - Noi siammo inglesi, siammo di Nigeria. Curiosa resposta, ehn?

Esta e outras situações deste dia mostraram-me que Nápoles tem comunidades de todo o mundo. Mais tarde, quando cheguei ao Capodimonte para passear nesse parque, assisti a grupos do Sri Lanka a jogarem críquete...

Mas onde queria chegar é mais a esta idéia: atravessando as ruelas de Nápoles vazias em virtude do feriado, e com uma grande mochila às costas e algum receio por me imiscuir em bairros não tão recomendáveis quanto o Chiado, vi-me na pele daqueles soldados americanos que tomam uma cidade estrangeira. Podia ser um soldado de Patton - o cenário não seria muito diferente - entrando por Palermo adentro. Salvaguardando as diferenças - ... felizmente não vivemos em guerra... - o meu coração batia com maior agitação e a atenção estava a 100%, não fosse assaltado por algum "sniper" furtivo do alto dum telhado ou na dobra duma esquina. Tenho é claro a declarar que o bom povo de Nápoles se portou bem, mas impressionou-me de boa maneira a pobreza extrema desta gente. Nesse meu regresso de Capodimonte, pelas 16h00, notei um cheiro insalubre, de sujidade acumulada. Nápoles é uma cidade sujíssima, em muitas das suas ruas não entra luz e há muitas casas em estado de grande degradação. As paredes dão a impressão de que nunca foram lavadas e há um acumular de anúncios, notícias - algumas dando conta de óbitos, propaganda política e grafittis... Na véspera, a cidade que me encantara pelo seu frémito, hoje enojava-me. Estava na hora da despedida. E assim foi. Desobedecendo ao empregado da recepção - que me dissera que não podia tomar duche - tomei um duche na casa de banho que ele me indicara na entrada do hotel para mudar de roupa. Sentia-me mais que porco. Saí, sem que ele ou ele tocássemos no assunto, com um "grazie, arrivederci!" e entrei num táxi e parti para a estação para apanhar o "Circumvesuviano" - haverá algum nome duma linha mais bonita do que esta?!  - para Sorrento!


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