Nápoles e Pompéia

Imagina que depois duma noite silenciosa acordas e sais à rua. Após caminhares ao longo duma baía com duas altas montanhas como fundo vês, do lado da cidade um enorme palácio salmão. Uma estátua dum senador romano saúda-te os bons dias. Nada especial, não é?, mas é apenas ainda a "côdea" desta cidade.

Começando o dia sem planos, apenas o de sentir a cidade, olhei para cima e no alto avistei um grande forte. Quis-me aventurar pelas ruelas, que a ele ascendiam, mas de pronto fui disso demovido: parando para perguntar a populares, fui abordado por um tipo que não me largava; uma senhora um pouco depois disse-me que seria melhor guardar o Ipod. Então, frente a estes dois avisos, decidi poupar-me. Mas lá subi de funicolar até ao topo. Valeu bem a pena pois chegando a Castel S. Elmo e Certosa S. Martino, a vista é deslumbrante: a cidade aos nossos pés, grande, bonita, um lençol estendido à nossa frente. E num rasgo de coragem, não me apetecendo meter-me em museus, resolvi empreender a descida para a cidade por uma escada - uma via - sem que soubesse onde ela ia parar, mas o convite era bom demais... Assim começou a minha jornada.    

Logo de seguida, já a chegar ao miolo da cidade, entrei na mais fascinante das experiências: em cada beco um personagem, em cada banca um colorido. Num rodopio, scooters carregando um ou mais passageiros - cheguei a ver famílias de quatro! - passam por ti para a frente e para trás: partidas, velhas, com suportes para carregar carga. Uma multidão vive este frémito, tal colmeia recheada, gente de passos certos e gestos decididos.
O Vesúvio assoma no horizonte, tal qual irmão mais velho - ou será tal pai ameaçador?, pai bíblico, que de longe impõe os seu respeitos a estes filhos muito pouco obedientes, mas devotos a Nossa Senhora. Sim, devotos a Nossa Senhora, como mãe, mãe que perdoa tudo, como os argentinos tudo perdoam a Maradona, por sinal um dos santos napolitanos, presente nos nichos de devoção e herói glorioso do seu futebol.

Sendo perto das 16h00, decidi tomar o comboio para Pompéia, o que demorou cerca de 30 minutos numa linha que se chama a "Circumvesuviana" e que nos leva a Sorento. Aqui deixo impresso o que escrevi in situ: "O ser humano é uma espécie extraordinária. Neste conjunto de pedras amontoadas mas ordenadas, rodeado pelo Vesúvio e por Sorento do outro lado, a beleza do recorte da pedra com os montes ao fundo, os elegantes ciprestres, enquanto oiço Last exit to Brooklin de Mark Knopfler. Sinto o espanto dos que também aqui vieram hoje, como eu - uma comoção silenciosa que nos faz percorrer estas alamedas e que nos recorda a eterna condição humana.!"

Embalado por tão boa música, percorro Itália, e apaixono-me pelas suas montanhas, praças, cores e colunas. Ao voltar, uma visão de Napóles pela noite abre-me novamente o coração: uma das mais espantosas praças que já vi, a Praça do Plebiscito, um equilíbrio de formas, uma grandeza que nos toca os poros.




Comentários

Der Wanderer disse…
Ele há viagens em que a fronteira entre o dentro e o fora não se distingue. O que é exterior define o que no interior precisa recorte, o que é interior pinta, em largas pinceladas, sobre nós próprios, e assim, nos definimos.

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